Olá amigos do HFPB. Hoje, 30 de julho, comemora-se exatos 95 anos de inauguração oficial da estação de Bananeiras, ou seja, no dia 30 de julho de 1926, levando finalmente os trilhos aquela bela cidade brejeira.
A história do Ramal de Bananeiras remeta-se desde o final do século XIX, quando foi encontrado minerais de grande valor em território pertencentes ao atual município de Picuí, Seridó oriental paraibano. Estes minerais seriam transportados através de uma grande ferrovia que sairia a partir de Independência (posteriormente Guarabira) até o município seridoense.
Dentre as localidades contempladas com o prolongamento até Picuhy (segundo grafia da época), estaria a vistosa cidade de Bananeiras, que estaria na trajetória dos trilhos. Os trabalhos deram início a partir de 1910, e em 20 de dezembro de 1910, partindo da localidade de Itamataí (cuja estação foi concluída em 1911) até a parada do Km - 10 (parada Sítio Grossos), localizado no atual município de Pirpirituba.
As obras prosseguiram adentrando escarpas de montanhas entre o trecho até chegar à Serra da Samambaia. Neste trecho foi construído o famoso Túnel da Serra da Samambaia, o primeiro túnel ferroviário construído na Paraíba (este túnel faz uma curva).
Em 24 de novembro de 1913 foi entregue o trecho até a estação da povoação de Boa Vista (posteriormente Camucá e Borborema) já em território bananeirense. No mesmo dia foram inauguradas também a estação de Cacimbas (entre Pirpirituba e Borborema, destinada a provisão de mantimentos) e o Túnel da Serra da Samambaia. No trecho foram construídos inúmeros cortes e aterros sempre escarpando as serras em uma das mais belas vistas de todo o trecho.
Depois da inauguração da estação de Cacimbas e Borborema em novembro de 1913, as obras foram paralisadas devido a cortes no orçamento.
Somente a partir de 1920, com algumas alterações do projeto original, foram autorizadas o prolongamento do trecho paralisado em Borborema pelo então Presidente da República, o Sr. Epitácio Pessoa. As obras foram iniciadas imediatamente e deveria prosseguir até Picuí.
De acordo com o Diário Oficial da União (DOU) de 30 de Janeiro de 1920, que transcrevo da seguinte maneira:
"O ministro de Estado da Viação o Obras publicas, em nome do Presidente
) da Republica
obra:
Resolve nomear o engenheiro João Botinas para exercer o cargo de engenheiro-chefe da nommisslo constructora do ramal ferre° de independencia.a Picuhy, no Estado • da Para-, ayba do Norte, com os vencimentos que lhe coma pearem.
• Rio de Janeiro, 26 do- janeiro de 1920.
O expediente de 28 de janeiro de 1920 trazia o seguinte:
Sr. inspector federal das Estradas: •
Passo ás vossas mãos; para VOSSO 'conhecimento, a inclusa cópia da portaria de 26 do corrente mez, mandando applicar, na construcção do ramal ferreo de independenaia. a Picuhy, no Estado da Parahyba, as iestruações regulamentares e tabelas de vencimentos approvada,s por portarias do 13 de outubro e 2 de dezembro do armo findo..."
A partir de 1921 teve início da perfuração do grande Túnel da Serra da Viração, praticamente as portas de Bananeiras. Porém com a elevada carga de chuvas no ano de 1922 e os inúmeros acidentes ocorridos por deslizamentos às obras se atrasaram por todo o ano. A estação de Bananeiras já estava praticamente pronta em 1922, só esperando a total perfuração do túnel e a colocação dos trilhos. Também no trecho foi construída no sítio Manitu uma pequena estação com casa de agente e um armazém.
No dia histórico dia de 22 de outubro de 1922 ocorreu a inauguração do trecho entre a estação de Borborema até a chamada "Bocca do Tunel", ou seja, uma parada improvisada na entrada do Túnel da Serra da Viração que estava sendo perfurado.
A data de 22 de outubro escolhida para os festejos, refere-se ao 2º ano de governo do maior incentivador do projeto do trem chegar a Bananeiras, o então "Presidente do Estado da "Parahyba" o Sr. Solón Barbosa de Lucena, filho da terra que inúmeros esforços empreenderam pra ver o sonho do trem um dia chegar ao sua terra natal.
O Sr. Solón Lucena, disse certa vez que "O trem chegará a Bananeiras nem que seja por debaixo da terra", e assim foi feito e esta frase ficou imortalizada. Além dos festejos de inauguração do trecho, ocorreu uma partida futebolística envolvendo as equipes do Bananeiras Football Club e o Borborema Sport Club, ocorrida em Bananeiras no mesmo dia. Também foram oferecidas uma grande janta para as autoridades e participantes da partida histórica.
Destaca-se também o dinamismo do Engenheiro Chefe da "Commissão de Obras Contra as Seccas" em Bananeiras o Dr. Marques de Azevedo, grande responsável pela realização dos trabalhos de prolongamento do ramal. Segunda a revista Era Nova de 24 de dezembro de 1922:
"...sendo um dos seus promotores procipuos o engenheiro Marques de Azevedo, chefe da Commissão de Obras Contra as Sêccas, naquella florescente cidade serrana, em cujo cargo vem se revelando um funccionario modelar e com notoria capacidade e efficiente inteligencia."
Mas o sonho do prolongamento da obra foi interrompido no final de 1922, com um Decreto Federal do recém-empossado Presidente da República Arthur Bernardes que suspendia todas as obras em andamento no País e isto incluía a "Estrada de Ferro Independencia - Picuhy", que fora paralisada por completo.
Sabendo disso o Dr. Solón de Lucena entendeu-se com o Presidente Arthur Bernardes e este atendeu de imediato o pedido de retomada imediata da perfuração do túnel e sua conclusão até Bananeiras. E então as obras continuaram devido ao empenho direto do Dr. Solón de Lucena.
Finalmente o túnel fora perfurado, como relata o jornal A União de 27 de julho de 1923, que trazia, entre outras, a notícia de que a perfuração do túnel em Bananeiras já havia sido concluída e que o então Presidente do Estado, Solón de Lucena, recebera a agradável notícia. Porém, no dia 25 de novembro de 1923 ocorreu mais um fato histórico, a primeira locomotiva atravessava o Túnel da Serra da Viração. Fato este também muito comemorado pela população local, que fez lotar a bela estação de Bananeiras para ver finalmente o "gigante de ferro soltando fumaça pelas ventas".
Em 30 de julho de 1925 a estação de Bananeiras foi oficialmente inaugurada, sendo aberto oficialmente o tráfego do referido ramal.
Havia uma esperança que os trilhos pudessem prosseguir em direção a Picuí. Por isso, no início da década de 1950, o Governo Federal liberou verbas para a continuação do ramal paralisado no início da década de 1920 em direção a cidade seridoense.
Diversas obras d’artes foram realizadas, porém, mais uma vez, os trabalhos foram cancelados, desta vez, definitivamente.
Provavelmente os recursos que seriam destinados a este prolongamento foram transferidos em detrimento ao prolongamento do ramal Campina Grande a Patos, que estava a todo o vapor.
Algumas das obras d’artes realizadas neste período ainda podem ser encontradas partes delas nos municípios de Solânea, Casserengue e Barra de Santa Rosa.
Porém, o plano original era avançar com o prolongamento da linha até Picuí, passando pelos atuais municípios de Solânea, Barra de Santa Rosa, Jacu (distrito pertencente à Cuité) e finalmente chegar à importantíssima região do Seridó Paraibano Oriental, em Picuí e seu rico minério que despontava em suas terras. Porém as obras com havia sido mencionado anteriormente foram paralisados, com os trilhos indo até Bananeiras.
O ramal foi suprimido em 1966, por ordem de Decreto do Governo Federal que extinguia ferrovias que não fossem de relevância econômicas, e que seriam altamente deficitárias. Pouco tempo após este decreto, todo o material como trilhos, dormentes, estruturas de pontes, postes telegráficos, entre outros, foram totalmente retirados.
Infelizmente através do Decreto Federal de 1966, o velho Ramal de Bananeiras foi totalmente desativado e seus trilhos ao longo dos anos retirados, muitos deles para virar ferro velho e seus dormentes usados para alimentar caldeiras de engenhos da região.
Resta apenas as estruturas físicas como as estações em número de 6 estações e 2 paradas confirmadas (município de Pirpirituba), 1 parada ainda por confirmar (município de Bananeiras), dois túneis, além das demais obras d’arte como pontes, aterros, bueiros, cortes e pontilhões.
A bela estação de Bananeiras encontra-se bem preservada juntamente com seu antigo armazém tornaram-se Hotel e Restaurante Estação, recebendo visitas de turistas de diversas partes do Estado e do Nordeste. A antiga Casa do Chefe da Estação, tornou-se o Museu Desembargador Cananeia. Com absoluta certeza está dentre as construções mais belas de toda a história da ferrovia paraibana. E hoje, saúdo esta simpática e querida estação pelos seus 95 anos de inauguração.
Estação na época de sua inauguração em 1925. Railway Gazette, 1926.
Construção da estação e armazém em 1922. Fonte: Revista Illustração Brazileira, set, 1922.
Construção da estação por volta de 1923. Fonte: Filme Sob o Céu Nordestino, 1929.
Mais uma cena da construção da estação e armazém extraída do filme Sob o Céu Nordestino, 1929.
A estação em 1956. Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, IBGE, 1960.