Olá amigos do HFPB. Hoje, 4 de abril de 2021, é uma data especial, data que comemora os exatos setenta anos de inauguração do primeiro trecho entre Campina Grande e Patos, o que só viria a ser totalmente entregue em 8 de fevereiro de 1958. Este trecho mencionado acima corresponde ao entregue em 4 de abril de 1951, em um trecho de 17 quilômetros, entre Campina Grande e Puxinanã, então distrito campinense.
As obras de prolongamento desse trecho haviam sido iniciadas na segunda metade da década de 1940, com trilhos assentados até o km 9, a partir de Campina Grande. Daí até o km 17 (onde está localizada a estação de Puxinanã), as obras haviam sido atacadas.
De acordo com o jornal Diário de Pernambuco de 13 de junho de 1948:
"...a ligação ferroviária de Campina Grande a Patos - Está sendo atacado com recursos consignados no Orçamento Federal. Os trabalhos estão prosseguindo com regularidade, mas a realização desse empreendimento, que irá ligar o nosso litoral ao sertão e, ao mesmo tempo, articular todo o nosso sistema ferroviário do Nordeste, depende de dotações substanciais como as previstas no Plano Salte, que tornem possível sua conclusão em quatro ou cinco anos.
De acordo com o descrito acima, se tudo ocorre-se de acordo com as previsões da então GWBR (Great Western) naquele momento, posteriormente RFN (Rede Ferroviária do Nordeste), é que as obras de prolongamento seria concluídas em prazo máximo de quatro ou cinco anos, porém todos sabemos que as obras prosseguiram por mais 10 anos, ou seja, entregues em 8 de fevereiro de 1958.
Plano Salte (iniciais de Saúde, Alimentação, Transporte e Energia), mencionado na citação do jornal, foi um plano econômico lançado pelo Governo Federal do Presidente Eurico Gaspar Dutra. O objetivo do Salte era estimular e melhorar o desenvolvimento de setores de saúde, alimentação, transporte e energia por todo o Brasil, assim ajudando e melhorando as condições de vida da população brasileira.
Foi apresentado no Congresso Nacional em maio de 1948, porém só foi aprovado em 1950, sendo abandonado no ano seguinte, em 1951, por não ter alcançado os objetivos pretendidos.
Em notícia do jornal Diário de Pernambuco de 8 de janeiro de 1950, traz a seguinte nota:
"ESTRADA DE FERRO ENTRE CAMPINA GRANDE E PATOS
Mais um benefício de indiscutível importância acaba o presidente Eurico Dutra de proporcionar a Paraíba e ao seu povo.
Trata-se da abertura de crédito de dois milhões de cruzeiros que o chefe da Nação autorizou em dias da última semana, para o prolongamento da estrada de ferro entre as cidades de Campina Grande e Patos.
A notícia causou a mais viva satisfação nos círculos sociais e econômicos do Estado."
O prolongamento Campina Grande-Patos ganhou novo folego com a injeção deste crédito milionário, dando animo ao um sonho antigo, desde o início da década de 1920 (já postada anteriormente neste blog).
Os trabalhos recomeçaram imediatamente, com boa parte do trecho já atacado sendo enfim terminado até o km 17, onde seria construída a estação de Puxinanã.
Com grande dinamismo os trabalhos seguiram em ritmo acelerado, sendo construído aterros, pontes, bueiros, cortes na rocha, enfim, obras d'artes empregadas na construção deste trecho.
Os trabalhos ficaram a cargo da Empresa Construtora Camilo Collier Ltda, que fizeram uma excepcional obra, que até hoje, 2021, ainda atesta pela durabilidade do material empregado.
O dia tão aguardado chegou, 4 de abril de 1951, uma quarta-feira, a satisfação estava estampada nos semblantes de todos que se aglomeravam em torno da pequena estação, e não era pra menos.
Correspondentes da imemorial revista Manaíra fizeram a cobertura do evento em Puxinanã. A reportagem completa saiu na edição n° 66 de junho de 1951, cuja bela capa foi desenhada pelo cartunista Deodato Borges, transcreveremos a matéria abaixo:
“Dezenas de automóveis não conduziriam no dia 4 de Abril do corrente ano a quantidade de homens e mulheres que três lastros trouxeram à Puxinanã nesse dia para assistirem a inauguração do trecho da Rêde Ferroviária do Nordeste.
A festividade foi imponente dentro daquele ambiente de alegria e simplicidade em que os Drs. Pedro e Camilo Collier se apresentavam risonhos e cheios de satisfação pela conquista de mais um povoado ligado à rainha da Borborema através do prolongamento da estrada de ferro Campina Grande-Patos.
Ali muitas famílias poderão construir as suas casas residenciais e terem tranzações diárias com Campina Grande tamanha a facilidade de transporte adquirida com a realização excepicional da Empreza Construtora Camilo Collier Ltda.
A inauguração, naquele dia, na área jurídica de Puxinanã, do trecho da estrada de ferro que liga Campina Grande ao Estado do Ceará foi presenciada por autoridades federais e estaduais.
Destacamos entre as pessoas presentes o sociólogo Lopes de Andrade representante do Exmo. Sr.. Governador José Américo de Almeida, prefeito Elpídio de Almeida, major Antonio Rodembusch vice-prefeito de Campina Grande, major Brigadeiro Alvaro Recker, Cel. Braulio Domingos, Cte. Militar da Rede 7ª, Cap. R. H.. Dobson, representante do Cte. Da 7ª Região Militar, Eng. Vicente de Brito Pereira, diretor do DNEF, Eng. Cornélio Júnior, chefe do D. Fiscal, Eng. Lauriston Pessoa Monteiro, chefe da DC-3, Eng. Gercino Pontes, diretor da RFN, Sr. João Justino Leite, Inspetor de Tráfego de RFN, srs. Aquilino Porto e Caminha França respectivamente, chefes de Tráfego e Linhas, drs. Cláudio Albuquerque do DNEF, Hortencio Ribeiro e outras pessoas de destaque.
Ao erguerem-se as teças pela grande solenidade falou o cônego Severino Mariano vigário de Campina Grande e representante de S. Excia. Revma. D. Anselmo Pietrulla, Bispo da Diocese.
O dr. Vicente de Brito Pereira proferiu, após aquele orador, um discurso que bem esclareceu o vulto progressista que insinua a penetração ferroviária numa região, como soube ressaltar com as devidas considerações, o valor do dr. Camilo Collier elemento destacado da sociedade pernambucana.
Teve elevada importância a colaboração do jornalista Abílio Carício, gerente da Empreza Construtora Camilo Collier, no organizar e orientar todas as ocorrências e cerimônias da festividade.
Desde os fins de 1946 que se encontra no Nordeste Brasileiro realizando várias construções federais, com a mais eficiente e meritória capacidade de trabalho, a Empreza Construtora Camilo Collier Ltda."
Realmente, de acordo com a matéria acima, este foi um acontecimento único para o então Distrito de Puxinanã. Foi construída uma pequena estação em estilo art decó, no estilo de diversas outras do período nos estados de Pernambuco e Alagoas.
A locomotiva que teve a honra de inaugurar o primeiro trecho do prolongamento entre Campina Grande a Patos era uma North British Locomotive Company do tipo mogul (jogo de rodas da classificação whyte 2-6-0), construída em 1904, porém não obtive o número exato da mesma, mas se sabe que era da série 200 de numeração.
Apesar da inauguração da estação e do trecho em 1951, o tráfego de passageiros só foi oficialmente aberto a partir de fevereiro de 1957, quando foi inaugurada a estação de Juazeirinho, sendo a partir de então os trens de passageiros e de cargas o trecho entre Campina Grande e esta localidade, numa distância de 98 quilômetros.
Além da estação propriamente dita, foram construídas uma vila ferroviária, armazém e depósito para trollers e peças em geral.
A estação passou a se chamar Floripes Coutinho, nome de um chefe político muito poderoso na região, falecido em 1934, sendo estampado com seu nome no dístico da estação.
As viagens de trens de passageiros seguiram até 1980, quando o transporte de passageiros foi interrompido, deixando uma grande lacuna na região, já que boa parte da população dependia diretamente deste meio de locomoção entre as localidades contempladas pela malha ferroviária.
A partir deste momento, a estação e todo complexo foi perdendo o objetivo original, até o ponto que todo, praticamente todo, o antigo complexo da década de 1950 foi totalmente demolido, nos anos subsequentes, até restar muito pouco.
Estação, armazém, vila ferroviária, depósito, tudo demolido. Segundo consta, demolida, pasmem, pela própria Prefeitura Municipal, na primeira metade da década de 1990, um absurdo total, de quem deveria ter o bom senso de ter preservado parte tão importante da saudosa estação. Lamentável que pouco restou do complexo, apenas a plataforma da estação escapou da sana destruidora, atestando para que um dia ali passou e parou trens de passageiros e de cargas.
Hoje resta apenas saudades dos bons tempos do trem na esquecida, porém relembrada estação de Puxinanã no seu septuagésimo aniversário.
Inauguração do trecho Campina Grande - Puxinanã em 4 de abril de 1951. Foto: W.V. (Revista Ariús, junho de 1951)
Bela capa da Revista Manaíra de junho de 1951 com ilustração da inauguração do trecho Campina Grande - Puxinanã
Ilustração de Deodato Borges para a revista Manaíra de junho de 1951 sobre a inauguração do trecho Campina Grande - Puxinanã em 4 de abril de 1951
Mesmo local da imagem anterior, desta vez setenta anos depois, apenas a plataforma restou da antiga estação
Aspecto das ruínas da antiga estação de Puxinanã, sendo observada apenas a antiga plataforma, ao fundo a antiga vila ferroviária. Obs: as casas não são as originais, foram demolidas e construídas estas pela comunidade que reside o local
Ruínas do que um dia foi a estação de Puxinanã, na época chamava-se Floripes Coutinho
Entrada da velha estação
A única parede que restou da antiga estação. Pode-se identificar a cor predominante delas, amarelo ocre
Restos do antigo depósito de trollers e outros materiais da linha. Localizava defronte do antigo armazém
Base do antigo armazém, atualmente um curral. Pouco sobrou deste prédio
Casas atuais no local da vila ferroviária. Restou apenas os alicerces de pedra e cimento. Foram demolidas há mais de vinte anos
Casa atual do antigo conjunto da vila ferroviária. Pode-se observar o alicerce de pedra e cimento da vila original