Olá amigos do HFPB. Depois de um certo tempo sem publicações, hoje, 2 de outubro, data esta especial, não poderia deixar de postar em mais um ano de aniversário da inauguração chegada da linha férrea a Campina Grande e a outras localidades comtempladas pelo prolongamento da linha Itabaiana - Campina Grande.
Naquela quarta-feira de primavera, 2 de outubro de 1907, ou seja, 116 anos atrás, a população da urbe campinense, estava ansiosa aguardando a chegada da locomotiva que daria, enfim, um passo gigantesco para o desenvolvimento econômico local, que de fato aconteceu.
Há algum tempo atrás, mais precisamente em janeiro último, postei aqui no blog sobre a "locomotiva" de uma imagem de 1949, no pátio da estação de Campina Grande, manobrando uma carga contendo fardos de algodão que seriam exportados, eis que hoje revelo a origem daquela máquina. Justamente a mesma locomotiva da imagem foi a que fez a viagem inaugural oficial em 2 de outubro de 1907.
A locomotiva inaugural, a “famosa” número 3, estava enfeitada com bandeirolas e ramagens de palmeiras, além de duas bandeiras do Brasil em sua frente. Toda a população da urbe se encontrava na estação recém construída, para assistirem o espetáculo do dia tão aguardado. Foi um dia de grandes festividades, tão aguardada por anos, por parte de todos os campinenses. Ali finalmente um sonho coletivo estava concretizado, lamentavelmente o seu primeiro idealizador, o Dr. Irineu Jóffily, não viveu pra ver a chegada do trem a terra que tanto amava, faleceu em 7 de fevereiro de 1902. Mas com certeza, estaria muito satisfeito com a vinda do trem na terra que tanto amava, mesmo em lados opostos ao então Prefeito Christiano Lauritzen, benfeitor da vinda da estrada de ferro a "Rainha da Borborema".
Alguns detalhes desta viagem podem serem vistas em postagens anteriores alusivas a data comemorativa de 2 de outubro.
Por falar na locomotiva número 3, que por muito tempo teve sua identidade “oculta”, eis que através de pesquisas, o modelo que foi utilizado nesta viagem, foi construído pela empresa inglesa ‘Robert Stephenson & Co.’ no ano de 1881, tinha 7 metros de comprimento, pesava em média 20,316 quilogramas, tinha e configuração de rodas 2-4-0T, segundo a classificação whyte.
Porém, poucos meses antes, este mesmo modelo já fazia viagens regulares a cidade, levando materiais, como lastro, pedras, dormentes, entre outros, para a conclusão do prolongamento ferroviário entre a cidade de Itabaiana a Campina Grande, trecho este de 80 quilômetros de distância.
Originalmente, esta locomotiva, foi adquirida pela então The Conde D’Eu Railway Company Limited, no início da década de 1880, para compor seu material rodante, além desta, outras três do mesmo modelo também vieram da Inglaterra. De acordo com o relatório de ‘Viação e Obras Públicas do Governo Federal’ de 1893, quando traz da seguinte maneira:
“As locomotivas de ns. 1 a 4 são do systema Stephenson, do typo Bogie Bissel, de tanque com quatro rodas conjugadas e de peso de 21 toneladas.”
As locomotivas da The Conde D’Eu recebiam nomenclaturas, prática comum no Reino Unido, em batizar locomotivas com nomes de regiões, cidades ou personalidades ligadas a história local, esta prática chegou ao Brasil através destes ferroviários britânicos.
A número 1 era denominada “Diogo Velho”, a número 2 se chamava “Barão de Mamanguape”, a número 3 era chamada de “Anysio”, e a número 4 era chamada de “André”.
Como podemos perceber a “famosa locomotiva número 3” era chamada de “Anysio”, esta alcunha durou até o fim da The Conde D’Eu, isto em 1902, quando a referida companhia foi encampada pelo Governo Federal, e todo o material rodante deste, passou para a Great Western of Brazil Railway (GWBR). Esta companhia retirou as alcunhas das antigas locomotivas da The Conde D’Eu, deixando apenas a suas respectivas numerações.
Infelizmente, algumas obras literárias a respeito da história das locomotivas a vapor no Brasil e da The Conde D’Eu, não fazem menção destas quatro máquinas inglesas da Robert Stephenson & Co., constando em seu material rodante, elas mencionam “apenas” locomotivas da marca britânica Black, Hawthorn & Co., que fizeram parte do material rodante. Na realidade, estas locomotivas, foram as de número 5 até 9, recebendo as alcunhas de “Gaston”, para a número 5, “D. Pedro d’Alcantara” para a número 6, “Isabel” para a número 7, “D. Luiz Felippe” para a número 8, e “Dom Antonio” para a número 9. Estas locomotivas vinham com tender atrelados, já as locomotivas da R. Stephenson vinham com os tanques d’água nas laterais da estrutura.
Por décadas a simpática e incansável número 3, serviu no transporte de mercadorias, lastro e por fim como manobreira. Recebeu algumas melhorias em sua estrutura, como nova chaminé (tipo “balão”), limpa trilhos e uma pequena grade sobre a estrutura, quase todas as locomotivas da GWBR, receberam melhorais para prolongar sua vida útil. Com o fim desta companhia em 1951, incorporou todo o material rodante da nova Rede Ferroviária do Nordeste (RFN), passando pela criação da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) em 1957, sendo definitivamente “aposentada” na década de 1960.
A partir daí ficou exposta em um clube nas proximidades da Praia de Boa Viagem em Recife, ao relento, sem nenhuma proteção contra as intempéries climáticas até ficar bastante desgastada. Inexplicavelmente, foi “cortada”, sem a mínima consciência preservacionista. Desta, foi “apenas” preservada, o velho farol de querosene e a placa de número 3, peças estas que se encontram no Museu do Trem em Recife.
Esta é uma pequena história de uma locomotiva que marcou época tanto em Campina Grande, quanto nas localidades onde ela passou.
OBS: Este mesmo texto foi publicado no jornal do Instituto Histórico de Campina Grande (IHCG), em maio do corrente ano.
Locomotiva R. Stephenson & Co. estacionada na gare da estação de Campina Grande tempos antes da inauguração oficial em 2 de outubro de 1907
A estação de Campina Grande sendo poucos meses antes da inauguração oficial, em meados de 1907. No canto direito podemos identificar uma locomotiva Robert Stephenson & Co., a mesma da número 3, trazendo materiais para a conclusão da ferrovia. A possibilidades desta máquina da imagem ser a mesma da inaugural em 2 de outubro. Agradeço ao Instituto Histórico de Campina Grande (IHCG) pelo envio da fantástica imagem
Senhoras defronte a saudosa locomotiva número 3 em um clube na Praia de Boa Viagem em Recife no início da década de 1970. Agradeço ao pesquisador recifense André Cardoso pelo envio da bela imagem
A número 3 em um clube na Praia de Boa Viagem já em estado de deterioração em 1977. Agradeço o pesquisador inglês William "Eddie" Edmundson, pelo fornecimento da bela imagem