Olá amigos do HFPB. Hoje, 4 de junho de 2024, uma data especial. Há exatos 140 anos, ou seja, no dia 4 de junho de 1884, era inaugurada a estação da importante cidade de Guarabira, na época conhecida como "Independência".
Esta estação, era a conclusão do plano de expansão da empresa britânica "The Conde D'Eu Railway Company Limited", ou simplesmente Estrada de Ferro Conde D'Eu, detentora dos direitos de implantação e exploração ferroviária na então Província de Parahyba do Norte, a partir da década de 1870.
Guarabira, seria o ponto mais distante, em relação a Capital paraibana, em que a referida companhia implantou, não tendo interesse de prolongar os trilhos além deste ponto. Justamente, acompanhando as regiões produtoras de cana-de-açucar, ao longo do vale do Rio Paraíba e do Rio Mamanguape. Na época, era conhecido como "Ramal de Independência". De acordo com o excelente trabalho de Mestrado de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo na UFBA (Universidade Federal da Bahia) de Maria Simone Morais Soares, intitulado "Território e cidade nos trilhos da Estrada de Ferro Conde D’Eu - Província da Parahyba do Norte (1871-1901)", traz as seguintes informações, transcritas do Relatório do Governo Federal de Viação e Obras Públicas de 1892:
"...terrenos mais ou menos accidentados, e atravessando diversas vertentes” até atingir o ponto terminal na vila que dava o nome ao trecho. A vila de Independência era considerada “o empório do sertão, recebendo os productos do norte da serra de Borborema, que outrora buscavam o porto de Mamanguape.”.
Ao todo, seriam construídos 22 quilômetros entre Mulungu e Guarabira, distância relativamente curta. Continuando:
"Assim como o trecho de Mulungu a Cobé, o Ramal de Independência atravessava terrenos de tabuleiros, passando por cotas mais elevadas do relevo, entre 68m a 170m de altitude. Além disso, cruzava vertentes de grandes rios, como o Mamanguape e o Cuitegi. As obras d'arte construídas foram seis pontes, um pontilhão e 96 boeiros, além de duas estações, a de Cachoeira e de Independência."
Os jornais da época, noticiaram com entusiasmo a inauguração do trecho correspondente, dentre os jornais da época, podemos destacar "O Liberal Parahybano" de 14 de junho de 1884, que traz a seguinte matéria, de acordo com a grafia da epoca:
"A 4 do corrente foi aberto com a solenidade do estylo o trafego da via-ferrea Conde d’Eu de Mulungu á Independencia.
Ás 11 horas da manhã d’aquele dia partiu o trem da estação d’esta cidade, levando S. Exc. O Sr. presidente da província, os Srs. engenheiros da empreza e os do governo, várias pessoas gradas e algumas famílias.
Depois das quatro da tarde chegou o trem á estação final da Independencia, onde foi recebido pela respectiva população com vivas demonstrações de enthusiasmo.
As 6 ½ da tarde começou o jantar, cujo serviço correu profuso e delicado.
N’esta ocasião levantaram-se vários brindes, o ultimo dos quaes S. Exc. Presidente da província dirigio á S. M. o Imperador, não só disse S. Exc., como o primeiro magistrado do paiz, como também por ser um optimo cidadão, cujo patriotismo mil vezes manifestado ninguém hoje contesta.
Em seguida ao jantar tiveram lugar dois espetáculos, um dramático do Sr.Penante, e outro equestre e acrobático por outra empreza que há dias se achava na Independencia.
Também no edifício da municipalidade houve um baile que prolongou-se até hora avançada da noite.
Diversas pessoas residentes no lugar esmeram-se na hospedagem que deram aos ilustres visitantes.
Os Drs. Juiz de direito, juiz municipal, promotos publico da comarca, nossos ilustres amigos, Drs. Amaro Beltrão e Banevindes, capitão Trigueiro e suas Ex. famílias e outros distinctos cavalheiros penhoraram a todos pelo bom tratamento, excelente hospedagem e delicada atenção que souberam dispensar.
No dia 5 às 8 da manhã partia o trem com destino á estação central, estando todos saudosos e agradecidos aos distictos cavalheiros e distinctas senhoras, residentes n’aquela comarca. A linha férrea acaba portanto de aproximar-nos de mais um centro de produção e trabalho. Felicitemos por nossa vez todos os que concorreram para esse grande melhoramento."
Estava, enfim, inaugurada a estação de Independência, posteriormente Guarabira. No dia seguinte, 5 de junho, alguns contratempos ocorreram durante a viagem de regresso para a Capital "Parahyba", porém sem maiores consequências, como noticiou o jornal "Diário da Parahyba" de 7 de junho de 1884:
"No dia 5, às 8 horas da manha regressou o trem, que aqui chegou ás 2 horas da tarde.
Nas proximidades da estação de Araçá, a machina deu o prego, isto é, não poude transpor um elevado corte, que fica um ou dous kilometros aquem da mesma estação; pelo que foi necessario desengatilhar alguns wagons, que a machina voltou a conduzir quando chegou a Araçá."
Além desse incidente, a The Conde D'Eu Railway Company também estava sendo acusada de inaugurar o trecho antes da conclusão de toda a construção, para evitar uma multa por não cumprimento do prazo.
Não menciona, em nenhuma das reportagens acima, na época, o nome e a procedência da locomotiva inaugural, daquele histórico 4 de junho. As locomotivas até 1884 operadas pela companhia era 9 no total, construídas pela Robert Stephenson & Co (número de 1 a 4) e pela Black, Hawthorn & Co. (números 5 a 9), de procedências inglesas.
A partir de 1902, já sob a concessão da Great Western of Brazil Railway (GWBR), iniciou o prolongamento entre Guarabira e Nova Cruz no Rio Grande do Norte, sendo inaugurado no dia 1 de janeiro de 1904. Por um período de quase vinte anos, a estação de Guarabira foi ponta de trilho.
Continuou operando ininterrompidamente, até a venda da RFFSA no final da década de 1990, o que fez o tráfego entre ambos os Estados diminuir drasticamente, porém, desde o final da década de 1970, não tinha mais o "trem de passageiros", ficando apenas o ramal operando trens de cargas.
Teve seu fim em 2000, quando o ultimo trem carregado de sal, trafegou pela gare da estação de Guarabira, para nunca mais voltar, sendo o transporte ferroviário desativado.
Muitas cargas e pessoas trafegaram pela estação de Guarabira, era um ponto movimentadíssimo. Porém os tempos áureos das famosas "locomotivas a vapor" e depois os trens movidos a dieseis-elétricos, lamentavelmente tinham chegado ao fim. Ficaram apenas as lembranças de um tempo que não volta mais.
Depois de duas décadas de abandono, ou quase isto, a Prefeitura Municipal de Guarabira, neste ano de 2024, neste exato momento, está restaurando a referida estação, para, futuramente, alojar ali a Secretaria de Cultura, assim como a instalação do Museu do Algodão de Guarabira, sendo, que o local exportou por décadas este produto, movimentando amplamente a economia local. Na realidade, esta reinauguração deveria ter acontecido na data de hoje, porém, alguns percalços no caminho fizeram adiar a tão sonhada reinauguração, que está marcada, caso a restauração prossiga normalmente, para o mês de julho.
Esperamos que as novas gerações possa conhecer um pouco da história riquíssima de quando o trem passou e ficou em Guarabira por mais de 100 anos, e que essa história seja passada de geração a geração, que nunca a chama da "fornalha" da história se apague.
Este é meio maior sonho.
Parabéns Estação de Guarabira pelos seus 140 anos de existência.
Estação de Guarabira em sua configuração original