sábado, 22 de outubro de 2022

100 Anos de Inauguração do Trecho de Borborema a Bananeiras

Olá amigos do HFPB. Este mês de outubro, é marcado por importantes e significativos momentos na história da estrada de ferro na Paraíba, e neste dia 22, outra data significativa marca o centenário de inauguração do trecho correspondente entre Borborema e Bananeiras, na antiga Estrada de Ferro Independência - Picuhy
Depois de um certo período de paralisações nas obras de prolongamento da linha férrea em direção a Picuí, elas foram retomadas em 1920.
De acordo com o Diário Oficial da União (DOU) de 30 de Janeiro de 1920, que transcrevo da seguinte maneira (segundo grafia da época): 

"O ministro de Estado da Viação o Obras publicas, em nome do Presidente
) da Republica
obra:
Resolve nomear o engenheiro João Botinas para exercer o cargo de engenheiro-chefe da nommisslo constructora do ramal ferre° de independencia.a Picuhy, no Estado • da Para-, ayba do Norte, com os vencimentos que lhe coma pearem.
• Rio de Janeiro, 26 do- janeiro de 1920.
O expediente de 28 de janeiro de 1920 trazia o seguinte:
Sr. inspector federal das Estradas: •
Passo ás vossas mãos; para VOSSO 'conhecimento, a inclusa cópia da portaria de 26 do corrente mez, mandando applicar, na construcção do ramal ferreo de independenaia. a Picuhy, no Estado da Parahyba, as iestruações regulamentares e tabelas de vencimentos approvada,s por portarias do 13 de outubro e 2 de dezembro do armo findo..."

A partir de 1921, teve início da perfuração do grande Túnel da Serra da Viração, ou Garganta da Viração, a menos de 2 quilômetros da cidade de Bananeiras. Porém, com a elevada carga de chuvas no ano de 1922 e os inúmeros acidentes ocorridos por deslizamentos, as obras se atrasaram por todo o ano. 
A estação de Bananeiras já estava praticamente concluída em 1922, só esperando a total perfuração do túnel e a colocação dos trilhos. No trecho correspondente, foi construída no sítio Manitu, uma pequena e simpática estação, com casa de agente e um armazém. Esta estação serviu de ponto de apoio entre Borborema e Bananeiras, afim de atender as necessidades da população rural, que era maioria na época em relação a urbana.
O dia tão aguardado de inauguração deste trecho havia chegado. A data escolhida, 22 de outubro de 1922, marcava dois anos de governo do Dr. Solón de Lucena, o maior entusiasta do prolongamento ferroviário ao sua terra natal. Aquele domingo entraria para a história local. Finalmente, depois de anos de construção, o sonho de então levar a ferrovia a verdejante cidade de Bananeiras estava concretizada, mesmo que tenha sido na periferia desta.
De acordo com o jornal O Norte de 25 de outubro de 1922, traz com detalhes os festejos cívicos daquele dia especial (transcrito de acordo com a grafia da época):

"De Borburema, puxado pela locomotiva n° 197, toda embandeirada e coberta de ramos e flores, e onde se lia "Viva o Dr. Epitácio Pessôa" seguiu o trem que inaugurou o trecho citado, dando entrada na gare de Manitú recentemente construída e muito elegante às 13/2 horas, em baixo de enthusiasticos vivas a Epitácio Pessôa, Solon de Lucena, João Holmes e á Parahyba.
Na estação, numa grande faicha. estava escripto:
"Viva o Dr. João Holmes" e em dois grandes quadros, estas quadras:

"Pilões inteiro agradece,
Com muita sinceridade,
Do Presidente do Estado
A real neutralidade.

Ao digno dr. João Holmes,
Manitú neste momento,
Eterniza o seu justissimo
E profundo agradecimento".

Galgando a serra, a primeira locomotiva num apito agudo e prolongado, annunciou a victoria do homem, mais uma vez, sobre a natureza bruta e assim, ás 2,40, depois dum rapido percurso, no qual se ouvia constantemente o pipoucar dos foguetões, o comboio parou na estação provisoria da Bocca do Tunel, sendo os representantes do Estado recebidos pelas autoridades locaes, saudando-os, em nome de Bananeiras, o dr. Pedro Anisio Maia e o sr. Floriano Mendes.
Em poucas e enternecidas palavras, o dr. Alvaro de Carvalho agradeceu ainda uma vez em nome do exmo. presidente do Estado.
Dahi seguiram todos para a cidade, que fica distante uns dois kilometros, devido ao tunel em construcção que muito facilitará o acesso á cidade.
Desse grande tunel faltam ser perfurados concoenta metros, em rocha viva, sendo esse trabalho feito por poucos homens, avançando-se oito metros por mez, segundo informação que nos prestaram...." 

Depois dessa viagem inaugural, a festa tomou conta da urbe. Foram oferecidos banquetes aos ilustres convidados, discursos de autoridades foram proferidos, girândolas sendo soltas pelos céus, visitas realizadas e uma partida de futebol entre as equipes do Bananeiras Football Club e o Borborema Sport Club. Festa que seguiu a noite inteira. 
Enfim, o trecho estava pronto, faltando apenas dois quilômetros e a conclusão da perfuração do Túnel da Serra da Viração para que o sonho do então Gestor Estadual o Dr. Solón de Lucena se concluísse, que anos antes profetizara:  "O trem chegará a Bananeiras nem que seja por debaixo da terra", e assim o fez.
Depois de um pouco mais de um ano, depois da perfuração total do túnel, enfim, o primeiro trem chegou a gare da estação de Bananeiras no dia 25 de novembro de 1923, sendo a estação oficialmente inaugurada em 30 de julho de 1925, com história já contada anteriormente neste blog. Dali, o ramal não mais prosseguiu, devido cortes no orçamento ao IFOCS (Inspectoria Federal de Obras Contra as Seccas) pelo Governo do Presidente Arthur Bernardes.
Deixo aqui minhas singelas homenagens a este significativo dia, mesmo que há mais de cinquenta anos todo o Ramal de Bananeiras tenha desaparecido para nunca mais voltar.

FONTES: 

O Norte - 25 de outubro de 1922 
Revista Era Nova, 24 de dezembro de 1922
A União - 28 de novembro de 1923
Illustração Brazileira - Outubro de 1922

Túnel da Serra da Viração em construção. A estação improvisada chamada de "Bocca do Tunel" ficava nas proximidades daqui (sentido Borborema-Bananeiras). Fonte: Revista Illustração Brazileira - outubro de 1922

Extremidade do sentido Bananeiras-Borborema do Túnel da Serra da Viração em construção.  Fonte: Revista Illustração Brazileira - outubro de 1922

Festividades na chegada do comboio inaugural em 22 de outubro de 1922 a estação improvisada de "Bocca do Tunel. Fonte: Revista Era Nova - 24 de dezembro de 1922

Estação de Bananeiras ainda em construção. Fonte: Revista Illustração Brazileira - outubro de 1922

Corte no trecho Borborema a Bananeiras. Fonte: Revista Illustração Brazileira - outubro de 1922

Estação de Manitu em faze de conclusão. Fonte: Revista Illustração Brazileira - outubro de 1922

Aterro e corte no Km 288 no trecho Borborema a Bananeiras. Fonte: Revista Illustração Brazileira - outubro de 1922

Aterro e corte no Km 289 no trecho Borborema a Bananeiras. Fonte: Revista Illustração Brazileira - outubro de 1922

Corte na rocha e trecho lastrado. 
Fonte: Revista Illustração Brazileira - outubro de 1922

domingo, 2 de outubro de 2022

115 Anos da "Estação Velha" - Tour Pelo Museu do Algodão

Olá amigos do HFPB. Hoje, 2 de outubro, uma data que sempre será lembrada aqui neste blog. Há exato 115 anos, ou seja, no dia 2 de outubro de 1907, era inaugurado de forma oficial, pela Great Western of Brazil Railway (GWBR), o chamado "Ramal de Campina Grande". De acordo com o livro 'História de Campina Grande, do Dr. Elpídio de Almeida, 1962':  

"Tôda a população acorreu ao local da estação para assistir ao espetáculo desde muito aguardado... No meio da multidão, grave, taciturno, como era de seu natural, encontrava-se um cidadão que se esforçava por conter a emoção que o dominava. Era Cristiano Lauritzen, prefeito de Campina Grande, presenciando a realização do sonho que alimentara por muito tempo e que lhe custara cêrca de dezoito anos de atenção e esforços constantes. Sentia naquele instante que o progresso de Campina Grande estava assegurado, que a cidade, que adotara como sua, iria crescer rapidamente, tornar-se a mais importante do interior do Nordeste." 

A partir daquele momento, o surto progressista, trazido pela linha férrea, ganhou proporções nunca antes vista na cidade, como já frisamos bem, diversas vezes, em postagens anteriores. Aquele dia festivo, era a inauguração de uma obra que durara três anos, mas de um sonho com mais de vinte anos. O ramal tinha ao todo, 90 quilômetros de extensão, partia do 'Triangulo' em Itabaiana, passando pelas estações de Lauro Muller, Mogeiro, Ingá, Galante até chegar ao seu destino final, Campina Grande. Com o comboio inaugural, sendo festivamente recebido nestas localidades mencionadas. 
Para comemorar este festivo dia, faremos um "tour" pela "Estação Velha", melhor dizendo, um tour pelo interior do Museu do Algodão, ali instalado em sua segunda fase, desde 2001. Abaixo, uma série de imagens mostrando um pouco do acervo existente no referido museu, mostrando um pouco da história desta cultura tão significativa para a economia campinense por décadas. Confira: