segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

A União - 27 de Fevereiro de 2022 - Obras D'Artes em Metal e Pedra, Com História

Olá amigos do HFPB. Domingo, dia 27 de fevereiro de 2022, o jornal A União, o mais antigo em circulação da Paraíba, publicou uma vasta matéria sobre as pontes ferroviárias paraibanas. Matéria esta riquíssima de conteúdo, contando histórias de diversas pontes espalhadas pelo Estado.
Com o título "Obras d'artes em metal e pedra, com história", a matéria ganhou duas páginas completas contando um pouco de histórias de inúmeras pontes e sua importância história. 
Dentre as ponte mencionadas na matéria podemos destacar a Ponte de Cobé, Ponte de Guarita, Ponte do Rio Ingá, Ponte Rio Guarabira, Ponte Rio Bodocongó, Ponte Riacho do Padre, Ponte do Rio Gravatá, Ponte do Rio Mamanguape, Ponte de Cachoeira dos Guedes, Ponte do Rio do Peixe, Ponte do Rio Lava-Pés
Inúmeras outras pontes ficaram de fora deste material, aproximadamente foram construídas mais de 100 pontes na Paraíba, não que sejam menos importantes do que as mencionadas acima, mas pelo pouco material encontrado, além de imagens destas.
A grande matéria teve destaque para a colaboração dos pesquisadores Jônatas Rodrigues Pereira (quem vos escreve), Josemir Camilo de Melo e Maria Eduarda de Medeiros Brandão, estes, enriquecendo ainda mais o precioso conteúdo jornalístico, cada um enfocando um determinado tema relacionado a pesquisa ferroviária. 
Me foquei exclusivamente sobre as obras d'artes e um pouco de suas histórias, além de suas importâncias no contexto sócio-econômico-cultural.
O historiador Josemir Camilo de Melo, autor de várias obras referentes a ferrovia no Nordeste, destaca que a imagem do grande Viaduto da Serra da Viração em Salgadinho, o mais alto do Nordeste, foi registrada em um selo comemorativo dos Correios e Telégrafos, em comemoração da inauguração da ligação entre Campina Grande e Patos, em 1958.
A pesquisadora Maria Eduarda de Medeiros Brandão, brilhantemente conta um pouco da história da introdução da ferrovia na Paraíba e o impacto que estas tiveram na economia estadual.
Venho aqui agradecer de antemão a jornalista Alexsandra Tavares por esta belíssima matéria, além de toda a equipe do jornal A União pela produção deste material histórico. 
Quem quiser baixar a edição do domingo, dia 27 de fevereiro de 2022, aqui está o link:

Foto de capa do jornal A União de 27 de fevereiro de 2022. Foto: Jônatas R. Pereira 

Capa do jornal A União de 27 de fevereiro de 2022

História das pontes, ferrovia e seus pesquisadores

História das pontes, ferrovia e seus pesquisadores

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Obras D'Artes - Ponte do Rio Guarabira - Guarabira

Olá amigos do HFPB. Em mais uma série sobre 'Obras D'Artes' desta vez sobre a bela ponte metálica sobre o Rio Guarabira, que corta parte da cidade de mesmo nome.
A Ponte do Rio Guarabira, está localizada na área urbana da cidade de Guarabira, Brejo Paraibano, a cerca de 180 metros da estação local. Foi de fato, a primeira grande 'Obra D’Arte' de expressão, integrante do então prolongamento ferroviário entre as cidades de Nova Cruz, no Rio Grande do Norte e a então Independência, antigo nome de Guarabira
De acordo com o Decreto Lei de n° 4.111 de 31 de julho de 1901, ficou obrigada a companhia Great Western of Brazil Railway (GWBR) construir e concluir o prolongamento entre Independência a Nova Cruz pela importância na época do custo de 170.00 libras em títulos de 4%. Os trabalhos foram iniciados no dia 15 de julho de 1902, sendo concluído no final de 1903. O ramal foi oficialmente inaugurado no dia 1 de janeiro de 1904, finalmente ambos os Estados estavam ligados via férrea, com um trecho total de 50 quilômetros entre ambas as cidades.
De acordo com o Relatório do Governo Federal de Viação e Obras Públicas de 1904, foram construídas no ramal ao todo cinco pontes, sendo, como mencionado anteriormente, a Ponte do Rio Guarabira a primeira em construção do referido trecho, com apenas um vão de 17,50 metros de comprimento, a partir de 1902. Construída com superestrutura metálica resistente, em treliça, provindos da Inglaterra, sendo apoiados por ombreias a base de pedras untadas com cimento.
Muito similar a outra ponte com superestrutura metálica, em treliça, sobre o Rio Bananeiras, no Sítio Passassunga, uns dois quilômetros após a estação de Itamataí
Segundo outro relatório, este de 1905, o serviço de tráfego realizado durante o ano de sua inauguração foram feitas por 15 locomotivas tendo percorrido um total de 109.986 Km, realizados em trens mistos, de cargas e especiais.
Passaram inúmeras riquezas sobre esta ponte, trafegando produtos diversos, destacando a produção do agave e algodão, extraídos na região e exportados para os recantos de todo o Nordeste, além do transporte de passageiros. Devido a este intenso fluxo econômico empregado pela implantação ferroviária, já nas primeiras décadas do século XX, a cidade de Guarabira não tardou para alcançar o status de maior cidade do Brejo Paraibano, e uma das mais importantes de todo o Estado da Paraíba. 
Como todo o trecho ferroviário do interior paraibano, em especial nesta ligação Paraíba - Rio Grande do Norte, foi inexplicavelmente desativado. O último registro que se tem notícia de tráfego neste trecho aconteceu por volta de 2000 para nunca mais voltar, se encontrando no total e absoluto abandono. 
Foi pintada pela administração municipal há alguns anos nas cores que se encontra. Poderia também ser conhecida atualmente como “Ponte Azul”. 

FONTES: Relatório do Governo Federal de Viação e Obras Públicas de 1904 e 1905.

Aspecto da Ponte do Rio Guarabira. Foto: Jônatas R. Pereira em 2017 


Aspecto da superestrutura metálica em treliça. Foto: Jônatas R. Pereira em 2017 



Sinalizador instalado na década de 1990 na entrada da ponte para a PN (Passagem de Nível) logo adiante. Foto: Jônatas R. Pereira em 2017

Aspecto do sinalizador instalado na década de 1990 na entrada da ponte. Foto: Jônatas R. Pereira em 2017

Aspecto da Ponte do Rio Guarabira antes da pintura, com sua pintura primitiva metálica. Foto: Jônatas R. Pereira, 2012 

Imagem da Rua da Independência e ao centro, quase imperceptível, a Ponte do Rio Guarabira. Fonte: Revista Era Nova, 1921 

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

O Sistema de Bondes a Tração Animal da Capital Paraibana - Parte 2

Olá amigos do HFPB. Dando continuidade a história do sistema de bondes movidos a tração de animais da Capital paraibana. 
Na postagem anterior, tivemos a inauguração do sistema de tração de bondes ocorrida em 6 de junho de 1896, e sua consolidação, ampliando-se para outras localidades da Capital.
Com o rebaixamento da Ladeira do Rosário, iniciado em setembro de 1905 e concluído em janeiro de 1906, obra esta implementada pelo Governo Estadual, afim de facilitar o transito de bonde com mais passageiros, vencendo as partes em decline do trajeto, a Companhia Ferro-Carril Parahybana prolongou seus trilhos até o então Sítio Cruz do Peixe, no atual Bairro de Tambiá
No Sítio Cruz do Peixe, foi construído outro terminal, estação, para melhor comportar os bondes. Este prolongamento seguia o seguinte trajeto: Iniciava no Largo da Gameleira, passando no Convento e Igreja N.S. do Carmo, seguia em direção a Igreja Mãe dos Homens, descendo em direção ao Sítio Cruz do Peixe, onde uma estação terminal fora construída. O percurso seria de 1.450 metros. 
Naquele mesmo ano outro serviço entraria em cena na Capital paraibana, seria a "Ferrovia de Tambaú", porém este será contado em uma postagem específica, em breve.
Segundo Mensagem à Assembleia Legislativa em 01 de setembro de 1907 do então Presidente do Estado, Monsenhor Walfredo Leal:

"Em minha Mensagem do anno passado referi-me do seguinte modo em relação á empresa "Ferro-Carril" que faz o serviço de locomoção nesta capital: "O governo que é o seo maior accionista cogita de encampal-la, procurando por  esse meio chamar a si sua fiscalisação e direcção e dar-lhe alento de vida, afim de não desapparecer essa empresa de tanta utilidade, de vantagem indiscutível para o Estado".
Effectivamente, dando cumprimento á lei n.248 de 18 de setembro de 1906 levei effeito esta resolução, tendo sido realisada a compra da empresa pela importancia de 42:492$640.
Diz a administração da "Ferro-Carril" que a empresa estava em pessima condições de conservação, só possuindo 59 burros magros e fracos, 7 carros de passageiros 2 de carga; hoje porem, ella prospera, tendo augmentado para 70 o numero de animaes, construindo mais um carro de passageiros, melhorado o material rodante etc.
Alem disso, está quasi concluido um grande edificio na Cruz do Peixe, para o qual sera brevemente mudada a cocheira, o que era de maxima necessidade para melhor installação dos animaes. A nova cocheira está situada em um terreno que adquiri no Tambiá pela quantia de 3:500$000; no mesmo edificio ha dependencias proprias para a estação, e para a instalação de uma bôa officina de serventia á companhia "Ferro-Carril" e á ferro-via de Tambaú."

Resumindo, as condições da Ferro-Carril em 10 anos de utilização não eram nada agradáveis. O Governo Estadual tomou esta providência em encampá-la para que a mesma não "morra". Um fato que chamou negativamente a atenção, foi as condições físicas dos animais, lamentavelmente eles estavam trabalhando muito e recebendo pouquíssima atenção por parte da companhia. O importante, para muitos, era continuar os serviços, sem levar a consideração o bem estar destes animais, entre outros problemas que apareciam periodicamente, "o show deve continuar". 
Segundo o mesmo relatório:

"O deficit, porem, não traduz máo estado das finanças, porque elle foi motivado pelos melhoramentos que constituem serviços extraordinários, taes como a construcção da cocheira, cuja despesa monta a . . . . . 8:024$300, a compra de 11 burros por 1:490$000, material importado da Europa no valor de 3:797$290 e outros trabalhos que não devem ser computados como dispesa ordinária.
São pois, satisfactorias as condições de prosperidade da "Ferro-Carril" resultando de sua encampação feita pelo governo grande somma de beneficio publico.   

Com estes melhoramentos por parte do Governo Estadual, quando assumiu literalmente "as rédeas" da Ferro-Carril, deu novo fôlego a um serviço essencial para a Capital paraibana. Porém, o que deveria constituir em uma melhoria significativa nos serviços não significou lucros e nem melhoramento no sistema, dando defeitos constantes, causando verdadeiros embaraços a população. 
Um fato ocorreu no dia 6 de outubro de 1907, durante os festejos no bairro do Tambiá, segundo consta no jornal A República de 9 de outubro daquele ano, trazendo o seguinte:

 "No domingo durante os festejos no bairro do Tambiá, quebraram-se tres carros da ferro carril, causando verdadeiro atropello às familias que compareceram á referida festa."

O mesmo jornal, em 11 de outubro de 1907, lança outra nota sobre os precários serviços da companhia:

"O director das obras publicas, não se tem despreocupado do serviço de bonds, que corre sob sua activa direcção. Sabemos que o referido funccionario deu as providencias necessarias, opportunamente, para que fosse encommendado o material indispensavel, e trabalha na construcção de novos carros, existindo já alguns completamente reformados. A demora havida por parte das fabricas estrangeiras na execução da encommenda, motivou algumas faltas que se tem verificado, e que ao publico cumpre desculpar, attendendo a que não se originam de descuidos por parte do responsavel pela manutenção da empresa que o governo adquiriu. Orgam politico, absorve as nossas melhores energias a defesa da causa que defendemos, mas não temos intuitos de melindrar gratuitamente aos que se dedicam ao exercicio de suas funcções, procurando corresponder aos encargos respectivos. Estamos convencidos de que não perdurará a causa de alguns inconvenientes verificados no serviço de transportes, e seria uma deslealdade que não queremos patrocinar, desconhecer o zelo dos que se manifestam compenetrados das obrigações que lhes decorrem dos cargos que exercem. Entendemos justo fazer esta declaração."

Um serviço quando foi encampado em 1906 tinha o intuito de melhora-lo, mas como vimos, os investimentos por parte do Governo Estadual não surtiram o efeito esperado, afim de trazer maior comodidade a população da Capital paraibana na época. 
Segundo a Mensagem à Assembleia Legislativa em 01 de setembro de 1909 do então Presidente do EstadoJoão Lopes Machado, torna este fato mais evidente:

"Em 30 de Outubro do anno passado designei para exercer o cargo de gerente da Ferro Carril ao Senr. Jose de Meira Lima Sobrinho, funccionario do Thesouro. Estavam então em más condições de conservação os materiaes respectivos.
Reparados convenientemente tem o serviço corrido com regularidade, si bem que os rendimentos obtidos não tenham ainda permittido os melhoramentos necessarios, para corresponder perfeitamente  urbana ao desenvolvimento que está exigindo a viação urbana desta Capital.
O Senr. Major Manoel Deodato de Almeida Monteiro consentiu que fossem canalisadas as aguas do seu reservatorio, na propriedade que possue na Cruz do Peixe, e tem abastecido gratuitamente a estação central da Ferro Carril, sob a condição de serem feitos por esta os concertos que, porventura, se tornarem precisos no seu moinho.
Todavia, para evitar os embaraços que os desarranjos momentaneos têm occasionado, está sendo aberto um poço nos terrenos que possue o Estado, onde se acha a referida estação central. Têm sido reparados os trilhos, substituidos dormentes imprestáveis e adquiridos burros para o serviço dos bonds, havendo sido vendidos os que não mais servir.
As notas financeiras relativas a esse estabelecimento constão da parte financeira desta mensagem, como verificareis."

Porém, estes investimentos pouco surtia em realidade, não dando bons resultados expressivos. Na época, 7 bondes estavam em funcionamento, e um para reparos. No total, haviam 77 burros, destes 5 haviam morrido, dois vendidos, pois não prestavam para o emprego. Para piorar ainda mais, no ano de 1910, devido as rigorosas chuvas registradas na Capital, inúmeros animais adoeceram, ficando apenas 26 em condições de trabalho. 
Os recursos era escassos para compra de novos burros, com todo este problema o sistema de bonde foi ficando comprometido, aumentando o intervalo de tráfego dos bondes para uma hora, reduzindo, consequentemente, o número de carros em circulação.
Novamente o Governo Estadual, através da Mensagem à Assembleia Legislativa em 01 de setembro de 1910 do então Presidente do EstadoJoão Lopes Machado, tenta contornar a situação precária da Ferro-Carril, como pode ver a seguir:

"De 1° de julho do anno passado a 30 de junho deste anno, a receita dessa empresa importou em . . . Rs. 51.211:400, havendo sido de Rs. 53:117:290 o valor das despesas realizadas.
O governo, no intuito de melhorar o serviço de transporte urbano, fez encommenda de dois bonds automoveis, que deverão chegar brevemente.
O resultado da experiência esclarecerá o governo sobre as providencias que reclamam urgentemente as condições actuaes do serviço.

Através dessa mensagem apresentada, a utilização da força animal para o emprego era demais brutal, especialmente nos trechos ladeirosos de forte declive como a da Rua do Rosário, por exemplo. 
Porém, antes da inauguração do novo sistema de bondes, no dia 10 de dezembro de 1910, todo a Companhia Ferro-Carril Parahybana, juntamente com seus imóveis, móveis e semoventes, de acordo com clausula XIII, do contrato celebrado, em 4 de outubro, foram entregues os serviços para os Engenheiros Alberto San Juan, Tiago Vieira Monteiro e Júlio Bandeira de Melo.
Os dois novos bondes chegaram quando estavam já no regime de contrato de viação elétrica. A  tão esperada data de inauguração do novo sistema aconteceu em 15 de fevereiro de 1911, já sob nova direção, que se tratava da Empresa Tração, Luz e Força. 
Os antigos bondes de tração animal continuariam a circular por um certo período até aproximadamente em meados de 1917, um pouco mais de vinte anos de serviços com seus altos e baixos, quando gradativamente foi totalmente substituído por outro sistema mais moderno e vigente em vários recantos do país, bondes à Tração Elétrica. 

Fontes: 
Roteiro Sentimental de Uma Cidade, Walfredo Rodriguez, Ed. A União, 2° Edição, 1994.
Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa, Dr. Álvaro Lopes Machado, 1 de Setembro de 1907.
Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa, Dr. Álvaro Lopes Machado, 1 de Setembro de 1909.
Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa, Dr. Álvaro Lopes Machado, 1 de Setembro de 1910.
Jornal A República - 9 de outubro e 11 de outubro de 1907. 
...E O BONDE A BURRO FOI IMPLANTADO: um ícone de modernidade da cidade da Parahyba no final do século XIX. José Estevam de Medeiros Filho, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, UFBA, 2013.

Estação de Cruz do Peixe, por volta de 1910

Estação de Cruz do Peixe e ao fundo a direita a estação da Ferrovia de Tambaú em 1910

Em primeiro plano a direita, o prédio da Empresa Tração, Luz e Força,  ao fundo a direita a estação da Ferro-Carril de Cruz do Peixe por volta de 1912

Antiga sede da Ferro-Carril Parahybana em 1920 já como função de armazém particular 

Um antigo bonde de tração animal abandonado na Praia Formosa em Cabedelo em 1927. Autor desconhecido 

Modelo restaurado de bonde a tração animal exposto no pátio da Usina Cultural Energisa, antiga usina de energia da Empresa Tração, Luz e Força. Foto do autor em maio de 2015