sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Raridade - Estação de Malta em Construção na Década de 1940

Olá amigos do HFPB. Hoje trago uma imagem interessante e ao mesmo tempo rara da construção da estação sertaneja de Malta, no início da década de 1940.
A referida imagem foi fornecida gentilmente pelo pesquisador ferroviário cearense Carlos Camocim, e a mesma faz parte dos registros fotográficos da antiga da companhia RVC (Rede de Viação Cearense) do qual a estação de Malta pertencia. A estação local estava praticamente concluída, restando apenas alguns detalhes, como a inclusão de portas e janelas, cobertura da plataforma, além dos trilhos.
Seu projeto remete ao início da década de 1920, quando teve início da conhecida Estrada de Ferro Ceará - Parahyba, obra iniciada em 1921 e apenas concluída mais de vinte anos depois, com a conclusão do prolongamento até Patos
O primeiro trem de passageiros passou pela estação de Malta com destino a Patos no dia 26 de janeiro de 1944, provindo do Ceará. Porém, sua inauguração oficial ocorreu apenas no dia 19 de abril do mesmo ano, sendo esta festivamente celebrada.  
Construída entre 1942 e 1944, o ramal de prolongamento entre Pombal Patos seria a última etapa de unir via férrea os Estados do Ceará Paraíba, e consequentemente os demais estados nordestinos contemplados pela companhia férrea, caso de Pernambuco, Rio Grande do Norte e AlagoasA inauguração oficial do ramal ligando duas das maiores capitais da região, aconteceu no dia 8 de fevereiro de 1958 dia de grande festa para todo o Estado.
A estação de Malta, assim como outras da época, foram construídas no estilo arquitetônico vigente na época, o Art Decó. 
As imagens foram extraídas no site Google Maps, e mostram a estação habitada por alguma família da localidade. Estas imagens foram feitas na cidade por volta de 2014, acredito que atualmente a estação esteja bem mais deteriorada, sem nenhuma expectativa de retorno da linha férrea no interior paraibano. Fato muito lamentável.

Construção da estação de Malta no início da década de 1940.

Imagem capturada no site Google Maps, mostrando a estação totalmente deteriorada, porém servindo de moradia a uma família, por volta de 2014.  

Aspectos da estação de Malta muito deteriorada. Servindo de moradia para uma família. Imagem extraída no Google Maps. 

Aspectos da estação de Malta muito deteriorada. Servindo de moradia para uma família. Imagem extraída no Google Maps. 

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Estação de Coitezeiras - Do Auge ao Abandono

Olá amigos do HFPB. A estação de Coitezeiras, localizada no município de São Miguel do Taipú, microrregião de Sapé, Zona da Mata Paraibana. A estação foi parte integrante do ramal que partia de Entroncamento (Paula Cavalcanti), e seguia até Pilar, sendo este prolongamento inaugurado em 28 de dezembro de 1883 pela The Conde D'Eu Railway Company Limited
A trajetória do Ramal do Pilar, como ficou conhecido, seguia o curso do Rio Paraíba, onde sempre tinha provisão d'água para o abastecimento das saudosas locomotivas a vapor. Segundo o relatório do Ministério de Industria, Viação e Obras Públicas do Governo Federal de 1893 traz a seguinte informação:

"Do kilômetro 31 da linha principal, à margem direita do Rio Parahyba, parte o ramal para o Pilar, transpondo terras ferteis que se prestam bem ao cultivo de canna de assucar, algodoeiro, mandioca, carrapateira (mamona), etc., e attingindo o seu termino com o desenvolvimento de 25 kilometros."

A estação seguia o estilo simples de construção das estações da companhia na época, sem maiores decorações artísticas em sua estrutura. Eram divididas em 5 classes, sendo a estação de Coitezeiras classificada como sendo de 4° classe, assim como as estações de Espírito Santo (Cruz do Espírito Santo), Cobé, Sapé, Araçá (Mari). A estação está localizada a aproximadamente 2 km da sede municipal, direção a Leste.
Como mencionado anteriormente, a região da Várzea do Rio Paraíba é riquíssima no cultivo de diversas, destacando sobretudo o cultivo de Cana de Açúcar, o que fez desenvolver inúmeros engenhos no fábrico de rapadura e aguardente. Dentre os engenhos se destaca o centenário Engenho Lagoa Preta, nas imediações da estação de Coitezeiras.
Segundo o site https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/ sobre o referido engenho, descreve dessa maneira:
"Este engenho recebeu esse nome em homenagem a uma lagoa de água muito escura, que existia por trás do mesmo, a qual com as enchentes do rio Paraíba deixou de existir. Suas terras eram compostas de pequenas planícies com ondulações e por colinas tipos arredondadas. Terras com declividade de maneira que o próprio engenho localizava-se em uma pequena elevação de terra. Em sua área territorial havia alguns açudes e lagos tendo como seu quintal o rio Paraíba. Não constam documentos da fundação do Engenho Lagoa Preta, mas se sabe que a comitiva de D. Pedro ll em 1859 esteve ali quando visitou Pilar.
Não há registro dos primeiros donos, mas esse engenho foi adquirido por uma família que saiu do sertão paraibano a procura de terras próximas ao litoral e do Porto da Capitania com fins de melhor facilidade para transportar suas frutas e os produtos feitos da cana-de-açúcar já que eram grandes produtores.
A linhagem Nóbrega teve a Sinhá Nóbrega, Ana Lins Vieira de Melo que sempre quis ter a admiração dos outros, tendo a fama de ser muito metida de não fala com os menos afortunados e ser muito mesquinha. Foi casada com Dr. Francisco Gouveia de Nóbrega e do casamento nasceram só filhos homens: Alberto, Arnouh, Carlos, Getúlio e Gilberto, este o que mais se destacou dentre os outros.  
Este engenho teve sua ascensão no período de plantação da cana-de-açúcar, pois era um dos maiores produtores desta agricultura tendo terra fértil e vasta dimensão na várzea do Rio Paraíba. Fabricavam açúcar, aguardente destilado, rapadura dentre outros derivados da cana-de-açúcar.  
Seu Gilberto Gouveia de Nóbrega teve a honra de receber através de doação o engenho Lagoa Preta e com sua morte foi entregue aos seus filhos Gilda e Gildo de Nóbrega que passaram a ser donos e administrar o engenho agora com o nome Fazenda Lagoa Preta.
Em meados dos anos 80, a Fazenda Lagoa Preta, antigo Engenho Lagoa Preta, foi arrendada ao senhor Marcos Baracuy, que preservou as características originais e nos fins da década de 90 foi rateado entre os herdeiros que aos poucos foram vendendo suas partes, sendo comprada por pernambucano o Senhor Ercias Barbosa da Menezes que trabalhava com diversos tipos de agricultura.
No ano de 2005, era outro o dono das terras da Fazenda Lagoa Preta que tinha como pensamento resgatar os velhos tempos de plantio de cana-de-açúcar. 
Mesmo tendo passado por muitas reformas, os anteriores donos e o atual sempre mantiveram as características originais. Atualmente o Engenho (Fazenda) Lagoa Preta pertence ao empresário da rede de supermercados Bemais, que preserva ainda as características de engenho, tendo um dos bueiros ainda em pé com o nome da Fazenda na lateral.
O seu Preto assim conhecido tem em suas terras heliportos e uma minipista de pousos para ser usada em benefício próprio e na realização de grandes vaquejadas com participantes do Brasil todo, cultivando, também, atividade voltada para piscicultura.
A Fazenda Lagoa Preta subdividem-se em três propriedades com algumas famílias todos posseiros, o dono ficou com todo o conjunto arquitetônico do engenho e toda extensão da várzea com açudes onde existe a criação de diversos tipos de peixes de água-doce."                    
Foi nesse cenário bucólico de engenhos, cana de açúcar e Rio Paraíba, que o Escritor José Lins do Rego escreveu uma das mais aclamadas obra da literatura nacional, o clássico, Menino de Engenho. Descendente de antigos senhores de engenhos da região José Lins do Rego escreveu cinco livros a que nomeou "Ciclo da cana-de-açúcar", numa referência ao papel que nele ocupa a decadência do engenho açucareiro nordestino, visto de modo cada vez menos nostálgico e mais realista pelo autor: Menino de Engenho (1932), Doidinho (1933), Bangüê (1934), O Moleque Ricardo (1935), e Usina (1936).
A obra é um romance memorialístico regionalista brasileiro, sendo a primeira de José Lins do Rego, publicado em 1932. Custeado pelo autor, o livro foi aclamado pela crítica brasileira por retratar a decadência do Nordeste canavieiro. Entre suas obras deposita-se e mesmo algumas vezes, vive o nordeste úmido da Paraíba, com os seus senhores de engenho, suas negras para o trabalho e amor. O escritor penetra pelo interior e amplia-se com o nordeste sertanejo dos cangaceiros, beatos, fanáticos e coronéis. 
Sua linguagem coloquial que invade a literatura brasileira com a força e o vigor raramente encontrados nos que antecederam o paraibano na captação da matéria regional. É pois, considerado como fundamental na história do moderno romance brasileiro. 
Em 1965 a obra foi adaptada para as telas do cinema. dirigido por Walter Lima Júnior. Dentre uma das cenas do filme, mais precisamente a sequencia final, foram filmadas estas cenas na estação de Coitezeiras, com um antigo trem da Great Western chegando e parando na gare da mesma. Tratava-se de uma locomotiva construída pela North British Locomotive Company, de Glasgow, Escócia, em 1904, do tipo "mogul" com arranjo de rodas 2-6-0, e de numeração 235. 
Aliás, essa talvez seja uma das únicas imagens da antiga estação de Coitezeiras, já que há muitos anos, desde que o transporte ferroviário de passageiros deixou de circular pelo interior paraibano a estação lamentavelmente foi demolida, restando apenas vestígios de que um dia foi uma estação.
Ricardo Henriques, Professor da Prefeitura Municipal de São Miguel de Taipu, me forneceu gentilmente duas imagens do que seria a antiga plataforma da estação ou do armazém. O que agradeço desde já pela gentiliza.
O trecho, assim como toda a malha ferroviária do interior do Estado se encontra em total abandono, onde a vegetação cobre boa parte dos trilhos. Daí partiam inúmeras cargas de cana de açúcar para as usinas da região e a partir daí exportadas para os recantos do Brasil e do Mundo. Tempos estes onde provavelmente não voltarão mais.
Confira abaixo imagens da sequência final do filme Menino de Engenho, mostrando a estação, depósitos e a chegada da composição de passageiros da locomotiva 235 a gare, além das imagens cedidas por Ricardo Henriques, mostrando a trite realidade atual do que foi uma estação ferroviária.

FONTES: Relatório do Ministério de Indústrias, Viação e Obras Públicas, 1893.

A imemorial estação de Coitezeiras. 

Sequencia final do Filme "Menino de Engenho de 1965, mostrando os personagens a espera da composição. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=S4qJ6fM90DM

Sequencia final do Filme Menino de Engenho de 1965, mostrando os personagens a espera da composição. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=S4qJ6fM90DM

Chegada da composição de passageiros a estação de Coitezeiras. Notar a numeração da locomotiva mogul 235, Sequencia final do Filme "Menino de Engenho de 1965. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=S4qJ6fM90DM

Sequencia final do Filme "Menino de Engenho de 1965, despedida emocionante de "Zé Guedes" ao menino "Juca", ao fundo a estação. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=S4qJ6fM90DM

Sequencia final do Filme Menino de Engenho de 1965, despedida emocionante de "Zé Guedes" ao menino "Juca", ao fundo a estação, a esquerda o antigo armazém e dependências da mesma. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=S4qJ6fM90DM

Parte de antiga estrutura de plataforma talvez da estação. Foto: Ricardo Henriques.

Resquícios de que um dia foi o local da antiga estação de Coitezeiras, a esquerda restos de uma plataforma. Não posso afirmar com certeza se fora da estação propriamente dita. Vegetação cobrindo todo o percurso. Não restando nada do que lembre uma estação. Foto: Ricardo Henriques.