sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Rede de Viação Cearense (RVC)


Olá amigos do EFPB. Hoje trago mais uma super postagem de uma companhia importantíssima que fez parte do cotidiano sertanejo por mais de trinta anos, me refiro a saudosa Rede de Viação Cearense (RVC).
A RVC foi formada pela união em 1910 de duas ferrovias de penetração construídas no Ceará desde o final do século XIX, interligadas posteriormente por uma linha transversal. Foram às linhas E. F. de Baturité e E. F de Sobral.  Em 1909, toda a E. F. de Sobral foi juntada com a E. F. de Baturité para se criar a Rede de Viação Cearense, imediatamente arrendada à South American Railway. Em 1915, a RVC passa à administração federal. 
Com a subida ao poder do paraibano Epitácio Pessoa a Presidência da República em 1919, este tinham planos para amenizar os efeitos das estiagens que assolavam os sertanejos por décadas. 
Então o mesmo convocou o IFOCS (Inspectoria Federal de Obras Contra as Secas) para realizarem obras de impacto nos sertões nordestinos. Entre estas obras podemos citar açudagem, construções de estradas de rodagem, implantações de poços artesianos públicos e construção de linhas férreas. 
Em 1920 os trabalhos em várias frentes foram iniciados. No Sertão paraibano, foram iniciados as construções dos açudes de Pilões, Piranhas e São Gonçalo, açudes estes de grande porte nunca antes construídos no Sertão Paraibano até então. 
A partir deste momento fez-se reconhecimento para o traçado de uma linha entre Paiano, no vizinho estado do Ceará, até Pilões localidade no município de São João do Rio do Peixe. Também tinham a intenção de construir um sub-ramal destinado ao transporte de materiais para a construção da grande barragem no boqueirão de Piranhas. O ramal pretendia se estender até a cidade de Patos.  No total, partindo de Paiano seriam construídos 223 quilômetros até Patos.
De acordo com o Relatório de Viação e Obras Públicas do Governo Federal de 1921, assim foi escrito: 
"A linha principal attinge, no km. 43 o povoado de Alagoinha, escolhido para a bifurcação do subramal; no  km. 54 a baixada do Cajueiro, nos limites  dos dois  ditos Estados; Pilões é alcançado no km. 82.
O dito subramal vem alcançar a cidade de Cajazeiras, da Parahyba do Norte, no km. 31, e o ponto terminal, boqueirão de Piranhas, no km. 50.
A extensão total da linha Paiano a Patos e dos ramaes de Pilões a Cajazeiras é de 256 km, 530. 
Em aviso n.656, de 3 de novembro de 1920, foi dada autorização a mesma Inspectoria para mandar construir essa linha, sem a qual não poderiam ter andamento, com rapidez e efficiencia, as obras das barragens de Piranhas, Pilões e S. Gonçalo, no Estado da Parahyba.
Em janeiro de 1921 já estava sendo executada a linha de Pilões em direção á Alagoinha, bem como o ramal de Cajazeiras a Pilões, conjuntamente com o trecho de Paiano a Alagoinha. 
O serviço de terraplanagem já está prompto até Souza e atacada a construção da linha em toda a extensão de Souza a Patos. Até 31 de dezembro ficaram concluidos 119.361m,33 assim discriminados:

    Trecho Paiano a S. João do Rio do Peixe .      32.000,00 m
    Do Kil. 40 a S.João . . . . . . . . . . . . . . . . . . .         31.966,00 m
    Ramal de Pilões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .          1.660,00 m
    S. João a Souza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .         24.535,58 m
    Ramal de Cajazeiras . . . . . . . . . . . . . . . . . .         20.269,75 m 
    Souza a Pombal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .         5.800,00 m
    Pombal a Malta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .          1.540,00 m
    Malta a Patos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .         1.540,00 m

Os trilhos chegaram a região contemplada com a chegada dos trilhos na primeira metade de 1922. Em 5 de agosto de 1923 o primeiro trecho do ramal foi inaugurado entre São João do Rio do Peixe e Cajazeiras, que tiveram estações provisórias (as estações destas só seriam construídas algum tempo depois). 
O propósito do prolongamento era a união via férrea entre Ceará e Paraíba, através do Ramal de Penetração entre Alagoa Grande (Brejo) com Patos (Sertão).
No entanto, com o corte de verbas no prolongamento partindo de Alagoa Grande, apenas o ramal sertanejo prosseguiu os trabalhos com mais eficaz.
Em julho de 1926 a estação de Sousa foi inaugurada. Os trabalhos foram interrompidos e só retomados a partir de 1930 quando foi reiniciado o prolongamento Sousa - Pombal, concluídos em março de 1932 quando a estação da última foi inaugurada
Mais uma vez os trabalhos foram interrompidos, até que em 1942 o prolongamento Pombal - Patos foi enfim retomado. A estação de Patos foi inaugurado em abril de 1944, concluindo as obras iniciadas em 1920, vinte e quatro anos antes.
O traçado foi modificado, e o objetivo agora era unir Campina Grande a Patos. Contrapondo todo o projeto inicial da década de 1920 que excluía a mais importante cidade do interior paraibano por puro "revanchismo".
Os trabalhos de prolongamento foram iniciados em 1950 no sentido Campina Grande - Patos , pela construtora Camillo Collier S/A, e em 1955 no sentido Patos - Campina Grande, esta última a cargo da RVC. Finalmente, em 8 de fevereiro de 1958 um sonho de mais trinta anos foi enfim concretizado, a união dos estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco via férrea. 
As companhias nordestinas foram arrendadas pelo Governo Federal em 1957 quando foi criado a Rede Ferroviária Federal RFFSA, ficando a RVC como uma subsidiária regional da companhia estatal até que em 1975 a RFFSA extinguiu a companhia. 
Esta foi um pequeno resumo desta companhia cearense fundamental para o prolongamento férreo no Sertão paraibano.

Estação de São João do Rio do Peixe, primeiro município onde os trilhos adentraram na Paraíba.

Trem de lastro com materiais para a açudagem e prolongamento férreo em 1922. 

Mapa do Sertão e seus prolongamentos em 1922.

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