domingo, 13 de janeiro de 2019

Obras D'Artes - Ponte do Riacho do Padre - Pirpirituba

Olá amigos do HFPB. Em visita ao município de Pirpirituba na última quinta-feira dia 10, finalmente conheci a Ponte do Riacho do Padre, sobre o riacho de mesmo nome. 
Na realidade apenas as bases e o pilar central de pedra estão intactos, já que todo o material metálico da ponte, assim como os trilhos e dormentes outrora existentes nela foram totalmente retirados no final da década de 1960, quando o Ramal de Bananeiras foi suprimido definitivamente. 
Esta visita deu graças ao amigo e pesquisador pirpiritubense Emival Galiza Barros, conhecedor profundo do local e da história da antiga ferrovia no município de Pirpirituba.
A começar o percurso a partir da cidade em direção a referida ponte, Emival mostrou-me em uma pequena rua de nome Rua Juvino Marreiro conhecida popularmente como "Rua da Linha", já que nesse ponto percorria a antiga estrada de ferro. Juvino Marreiro, segundo o próprio Emival, era um trabalhador da linha onde fazia limpeza da mesma em dias de fortes chuvas, desobstruindo os trilhos de qualquer material que os prejudiquem, ou seja, os famosos e destemidos "cassacos" (termo popular destinado a trabalhadores braçais que eram empregados nos mais variados oficios na ferrovias, como construção, desobstrução de linha, vistoria de trilhos, manutenção entre outros).
Se não fosse o conhecimento do amigo no trecho e o fato de ainda em um terreno ao lado da rua existir um antigo poste telegráfico de ferro não saberia jamais que ali um dia percorreu as possantes locomotivas e seus vagões.
Passamos da rua e seguimos em destino a ponte, percorremos o antigo trecho da linha férrea. Quase nada lembra os tempos áureos do transporte ferroviário, constata-se apenas alguns antigos bueiros, cortes e aterros.
Depois de uma curta caminhada chegamos a ponte. O que me chamou a atenção é o quão bem construído foi esta estrutura em base de pedra e concreto, sólidos e duráveis. A realidade é tanta, que esta estrutura fora construída em princípios de 1910, ou seja, 119 anos atrás. 
A ponte fica a 1,82 quilômetros de distância da estação de Pirpirituba. De acordo com o relatório do Governo Federal de Viação e Obras Públicas de 1911 foram construídos até o trecho inaugurado em 21 de dezembro de 1910; 9 drenos, 5 bueiros abertos, 52 capeados, 1 em arco, 2 pontilhões de 5 metros e 1 ponte de dois vãos de 10 metros. Esta última obra citada é a Ponte do Riacho do Padre.  
A ponte tem ao todo aproximadamente 22 metros de comprimento, 5,15 m de altura (cabeceira sul, sentido Itamataí-Pirpirituba), 4,30 metros de altura (suporte da estrutura metálica e pilar central), por 5,5 metros de largura (cabeceira sul).
Emival me contou uma história curiosa  e perigosa envolvendo seu saudoso pai Edval Barros Cavalcanti (conhecido como "Seu Diva") nessa ponte quando o mesmo tinha por volta de 11 anos de idade, no início da decada de 1950. Ele e outro amigo estavam colhendo capim  no Sitio Boa Esperanca nas proximidades do riacho para alimentar a criação de caprinos que seu pai criava na época e resolveram atravessar a ponte no trajeto de retorno para a propriedade. Quando os garotos estavam exatamente sobre a ponte atravessando-a bem na metade dela de repente, uma composição apita a alguns metros deles. O perigo era eminente, sem qualquer possibilidade de fuga para algum dos lados da extremidade da referida ponte ou mesmo pular para o riacho que na ocasião estava caudaloso, os garotos só pensaram em algo, soltaram os fardos de capim e se refugiaram entre a estrutura metálica da ponte e esperaram a composição "passar" acima deles. Felizmente tudo ocorreu como o planejado, ambos não ficaram feridos nesta incrível e perigosa "aventura", apesar deles ficarem "surdos" com o tamanho barulho da locomotiva passando sobre eles.  Realmente foi um enorme susto para aquelas crianças. 
Além da ponte percorremos um pouco do aterro onde passava a linha além dela. Constatamos que vários antigos dormentes estão servindo de estacas para uma cerca dividindo uma propriedade local. Emival teve a felicidade de encontrar em meio a um dessas estacas/dormentes restos de antigos grampos (pregos) fixadores de dormentes. Achado espetacular, já que pensava que nada de ferro no trecho tinha sobrado e o pouco que resta é bastante raro.
Visita muito proveitosa, agradeço ao amigo Emival por mais esta expedição e que outras virão no futuro próximo.


Ponte do Riacho do Padre, construção de 1910

Rua Juvino Marreiro. Aqui no passado existia a linha férrea onde trafegavam os trens.

Resquício de um antigo poste telegráfico de trilho ao lado da rua Juvino Marreiro onde no passado existia a linha férrea

Restos de um antigo bueiro aberto. 

Restos de um pequeno corte

Resquício de outro bueiro capeado no trecho antes da Ponte do Riacho do Padre

Início da ponte (sentido Pirpirituba-Itamataí)

Cabeceira norte da ponte (Sentido Pirpirituba-Itamataí)

Cabeceira norte da ponte (Sentido Pirpirituba-Itamataí)

Pilar central

Cabeceira sul da ponte (sentido Itamataí-Pirpirituba)

Pilar central

Resquícios de rosca onde apoiavam a estrutura metálica da ponte no pilar central

A ponte em sua totalidade

Texto de minha autoria com informações sobre a ponte

Registro do ato de "colagem" para posteridade

Cabeceira norte com o texto "colado" 

Cabeceira sul

Resto de um antigo dormente da linha servindo de estaca de cerca

Resto de um antigo dormente da linha servindo de estaca de cerca de arame farpado
Velhos grampos fixadores de dormentes encontrados em dormentes no local

Dois orifícios neste antigo dormente onde eram fixados os grampos no trilho

Paisagem local onde percorria o trem (os trilhos passavam aonde se encontram as árvores no centro da imagem).

4 comentários:

  1. Maravilha Jônatas.Parabéns pelo resgate histórico.Só é lamentável que tudo isso esteja abandonado e foi tudo feito com dinheiro público que não foi valorizado pelos governos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Verdade amigo João. Lamentável que neste país a ferrovia não seja prioridade de nossos governantes. É triste andar por estes lugares e verificar o total abandono de nossas ferrovias.

      Excluir
  2. Só lembrando que aí esse rio chamam riacho do padre porém trata-se do rio Cana Brava que nasce em Bananeiras próximo ao túnel ferroviário

    ResponderExcluir
  3. Esse rio é o mesmo rio da bica dos Côcos em Bananeiras

    ResponderExcluir