terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Estação de Acauã - Local de Uma Fazenda Histórica no Sertão

Olá amigos do HFPB. Hoje trago a todos vocês mais uma história da série de estações sertanejas. Desta vez contaremos um pouco da história da estação de Acauã, localizada no município de Aparecida, na região de Sousa.
A estação Acauã tem sua história ligada diretamente com a mítica e histórica Fazenda Acauã, uma das mais importantes e antigas de todo o Sertão nordestino. A história da ferrovia na localidade se confunde com a história da fazenda.
a história desta fazenda data de 1760, quando a casa e capela foram construídas. O sobrado anexo a capela fora construída em princípios do século XIX. Seu valor histórico está no fato de ter sido de propriedade do padre Luiz José Correia de Sá, que teve importante participação na revolta de 1817, e por também ter abrigado em caráter de preso rebelado contra os imperialistas de 1824, o Frei Caneca. A capela com torre sineira, é decorada interiormente com talhas e pinturas de delicado acabamento, e está localizada entre o sobrado e a casa térrea, sendo esta protegida contra o sol por alpendre nas fachadas. Tanto a capela quanto o sobrado, tem beirais em cimalha de boca de telha.  
Todo o complexo arquitetônico foi tombado pelo IPHAN em 27 de janeiro de 1967. Em junho de 1988 o complexo histórico foi adquirido pelo Governo Estadual. Nos últimos 10 anos o complexo passou por restaurações.
A história da construção da linha férrea cortando as terras da referida fazenda se deu por conta da necessidade do Governo Federal no início da década de 1920 através do então IFOCS (Inspectoria Federal de Obras Contra as Seccas) construir estradas de ferro pelo interior nordestino e barragens afim de amenizar os efeitos das prolongadas estiagens e melhor acesso entre as localidades sertanejas. 
O ramal que parta de Paiano, no Sertão cearense, alcançou o município de São João do Rio do Peixe em 1922, Cajazeiras em 1923 e Sousa em 1926. O caminho de ferro deveria seguir com destino a Patos, porém com a paralisação das obras por parte do Governo Federal onde o mesmo cortou verbas do IFOCS destinado ao prolongamento da via férrea em 1923, o trecho correspondente entre Sousa a Pombal, Pombal a Malta e de Malta a Patos ficaram quase que paralisados. Sendo realizados apenas a conclusão do trecho até Sousa, cuja estação foi inaugurada no dia  13 de maio de 1926 pela RVC (Rede de Viação Cearense) que ficou encarregada na administração da malha ferroviária sertaneja.
Com a subida ao poder do Presidente Getúlio Vargas em 1930, foram retomadas as obras do trecho entre Sousa e Pombal, e o prolongamento passaria justamente defronte a histórica fazenda. Foram contratados inúmeros trabalhadores para tal obra, que ficou encarregada novamente pelo IFOCS.    
Dentre estes contratados se destaca a figura do Engenheiro José Rodrigues Ferreira, nascido nos Estados Unidos e naturalizado brasileiro. O Engenheiro Ferreira era contratado pelo IFOCS/RVC para o prolongamento férreo. Quando esteve na Paraíba o Engenheiro Ferreira soube da existência de uma grande fazenda que estaria sendo vendida, esta fazenda pertencia ao Dr. João Suassuna. Quando o ex-governador João Suassuna foi assassinado no Rio de Janeiro em outubro de 1930, a fazenda passou para a viúva Dona Rita Vilar. Em 1932 ela vendeu sua parte ao Engenheiro Ferreira. A partir de 1932 o Engenheiro Ferreira passou a ser o dono exclusivo da Fazenda Acauã, onde administrou perfeitamente entre esta data até sua morte em 1952.
O trecho entre Sousa e Pombal foi inaugurado em 24 de outubro de 1932, concluindo mais uma etapa no prolongamento do ramal do Sertão, que por sua vez se uniria ao ramal de Penetração, partindo de Alagoa Grande, mas que teve os planos cancelados anos antes. Lembrando que este trecho não avançou em direção a Patos até 1944, quando o ramal foi prolongado em direção a esta cidade.
A antiga estação de Acauã ficava a alguns metros de distância da referida fazenda, o qual se beneficiou diretamente do transporte ferroviário. 
O Engenheiro Ferreira posteriormente construiu uma usina de oiticica, de beneficiamento do algodão, construção de barragens, além de vasta criação de gado bovino. Realmente uma fazenda extremamente próspera.
A estação além do transporte de mercadorias da fazenda e da região, também era destinada ao transporte de passageiros, onde foi construída uma casa do chefe da estação e caixa d'água para o abastecimento das locomotivas a vapor.
Infelizmente com o fim do tráfego de passageiros na década de 1970/80 na região, a estação foi demolida sem houver nenhum respeito com a memória ferroviária local. Um verdadeiro crime contra o patrimônio histórico. Em 2013, o último trem de carga passou pela região sem a menor perspectiva de volta.

Fontes e fotos: "O Apóstolo do Sertão" (mini documentário a respeito do Engenheiro Ferreira produzido por Laércio Filho em 2008.
http://agenciaeconordeste.com.br/fazenda-acaua-e-icone-da-reforma-agraria-no-nordeste/
http://www.ipatrimonio.org/?p=20316


Estação de Acauã ao fundo.

Gado bovino do Engenheiro José Rodrigues Ferreira. Na lado direito pode observar parte da estação.

Família do Eng. Ferreira na década de cinquenta. No lado esquerdo parte da estação.

Fazenda Acauã e usinas ao lado.

Usina de beneficiamento de algodão e oiticica.

A histórica Fazenda Acauã.

Linha férrea defronte ao complexo histórico.



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