domingo, 27 de setembro de 2020

As Potentes e Confiáveis Locomotivas "Mikado" da ALCO

Olá amigos do HFPB. Em mais uma postagem sobre máquinas que fizeram história, contaremos sobre locomotivas potentes e confiáveis, sendo elogiadas durante anos. Estou me referindo as potentes locomotivas do tipo "mikado", com configuração de rodas 2-8-2, classificação whyte (norte-americana), construída pela ALCO (American Locomotive Company) nos Estados Unidos, de numeração 400 da GWBR e posteriormente da RFN.
Elas chegaram a Great Western na primeira metade da década de 1940, como lembra bem o Sr. Carlos Vasconcellos, mais conhecido como "Comandante Mack", quando criança juntamente com seu pai viu estas belas máquinas chegarem ao cais do Porto do Recife, Pernambuco. A imagem dos grandes guindastes retirando as máquinas do navio, além do acendedor das locomotivas para colocá-las em funcionamento, nunca saíram de sua memória. Realmente são lembranças preciosas de tempos que não voltam mais.
Estas máquinas chegaram pra compor ao restante do material rodante da então Great Western a partir da década de 1940. A companhia estava necessitada de locomotivas a vapor mais potentes para o transporte de cargas diversas, e as do tipo mikado eram excelentes para o este emprego. Sendo vistas nos estados contemplados pela companhia, Alagoas, Paraíba, Pernambuco,  Alagoas e Rio Grande do Norte.
Os arranjo de rodas das mikado2-8-2, permitiram que a fornalha desta fosse colocada atrás em vez de acima das rodas motrizes, permitindo assim uma fornalha maior que poderia ser ampla e profunda. Este arranjo suportou uma maior taxa de combustão e, portanto, uma maior capacidade de geração de vapor, permitindo mais potência em velocidades mais altas. 
Realmente, eram máquinas excepcionais como lembra o próprio "Comandante Mack", quando me relatou: 

"...Foram muito bem aceitas por aqui, tinham potência suficiente e tal, não paravam no pé de serra pra subir como as outras, então ficaram famosas...Eu me lembro que os próprios maquinistas, que eram selecionados pra elas, elogiavam, gostavam, que a máquinas era muito boa, tinha potência, etc. Eu vi elas funcionando por aqui, deu certo...Eram máquinas muito fáceis de aproveitar em algumas coisas..."

Elas foram numeradas em 420, 421, 422, 450 e 451 (numeração recebida durante o período da Rede Ferroviária do Nordeste, a partir de 1951). Algumas delas foram para a Estrada de Ferro Sampaio Correia, no Rio Grande do Norte recebendo a numeração de 400 e 401.
Os dados técnicos destas máquinas são as seguintes, extraídas do relatório da Rede Ferroviária do Nordeste, RFN, sobre as características de locomotivas a vapor, diesel mecânicas e diesel elétricas, de maio de 1959:
* As 420 a 422 (além da 400 e 401, pela EFSC no Rio Grande do Norte) tinham um comprimento de 19.86 metros (com o tender). Altura Máxima: 3.619. Ano de fabricação: 1941. Capacidade de Tração: 8.882 kg. Velocidade máxima: 60 km/h. Capacidade d'água do tender: 16.817 litros. Peso em ordem de marcha: 41.200 Kg.
* As  450 e 451 tinham um comprimento de 19.190 metros (com o tender). Altura máxima: 3.58 metros. Ano de fabricação: 1918. Capacidade de Tração: 13.335 kg. Velocidade máxima: 60 km/h. Capacidade d'água do tender: 17.000 litros. Peso em ordem de marcha: 41.200 Kg.
Eram as maiores locomotivas da companhia até a chegada das enormes locomotivas a vapor  articuladas do tipo "Garratt" em 1953, mas essa história será contada em postagem futura, aguardem.
Segundo Artur Anderson, de Itabaiana, o seu avô,  Aldo Honório, ferroviário por mutos anos, como mecânico, chefe de oficina, sendo também foguista, por certo período, dizia a ele que o pessoal da companhia ferroviária chamava carinhosamente a mikado 450 de "cabeçuda", devido a grande caldeira e sua chaminé tipo "Balão de São João". 
Estas chaminés, eram utilizadas por locomotivas que ainda queimavam lenha em suas fornalhas, afim de evitar saída de fagulhas que causavam transtornos, tanto em cargas susceptíveis a incêndios decorridos dessas fagulhas, quanto em passageiros, que por muitas vezes eram atingidos por elas, assim como em construções ao longo da linha férrea. 
Durante a década de 1950, elas foram convertidas para queimarem óleo combustível pesado, derivado do petróleo (óleo BPF). Tracionaram até o final da década de 1960 e início da 1970, quando foram todas substituídas em definitivo por locomotivas diesel-elétricas, assim como todos os modelos da saudosas vaporosas. Lamentavelmente não sobreviveram sequer uma na RFN, sofreram todas com o maçarico implacável. Uma locomotiva mikado idêntica série das mikado 420 de 1941, sobrevive na antiga rotunda de Porto Velho, no Museu da Estrada de Ferro Madeira - Mamoré em Rondônia.
Agradeço gentilmente ao colaboradores: A Comandante Mack, de Recife, por trazer histórias fantásticas a respeito destas belas e inesquecíveis máquinas. 
Agradeço e muito a Artur Anderson por me enviar a bela imagem da mikado 450 estacionada em Itabaiana na década de 1950. 
Agradeço ao pesquisador ferroviário Jonas Martins de Minas Gerais por me ceder uma imagem da mikado 450 em operação no início da de 1970 em Pernambuco
Por fim, agradeço a André Cardoso, também de Recife, que me forneceu a algum tempo, o relatório com as características das locomotivas até então da RFN, trazendo informações preciosas sobre as mikado retratadas nesta postagem. 
Confira abaixo as locomotivas mikado da ALCO:

A "mikado" número 450 da ALCO de 1918, em Itabaiana, na década de 1950. Notar a chaminé tipo "balão de São João", ainda queimando lenha em sua fornalha. Imagem cedida gentilmente por Artur Anderson.

Novamente a mikado 450, já convertida para queimar óleo BPF. Imagem gentilmente cedida por Jonas Martins. Segundo o mesmo, a imagem remete ao início da década de 1970 na Mata Sul de Pernambuco.

Mikado 422 ALCO de 1941, percorrendo algum trecho da RFN na década de 1950, antes de ser convertida para queimar óleo BPF, notar a chaminé estilo "Balão de São João". Fonte: O Vapor nas Ferrovias do Brasil, Benício Guimarães, 1993.

A mikado 421, trafegando em uma ponte no Rio Grande do Norte em 1964. Acervo Manoel Tomé de Souza, RN.

Mikado 401 ALCO de 1941, modelo pertencente a Estrada de Ferro Sampaio Correia no Rio Grande do Norte em 1953. Acervo Manoel Tomé de Souza, RN.

2 comentários:

  1. Parabéns Jônatas, você tem prestado inestimável contribuição à história com seu trabalho abnegado e persistente de pesquisador nato. Excelente artigo.

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  2. Parabéns Jônatas, você tem prestado inestimável contribuição à história com seu trabalho abnegado e persistente de pesquisador nato. Excelente artigo.

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