Olá amigos do HFPB. Em visita ao município de Alagoa Grande na tarde da última sexta-feira dia 18 de janeiro, finalmente conheci uma obra grandiosa do então "Ramal de Penetração", ferrovia esta jamais concluída. Trata-se do grandioso bueiro em forma de arco pleno cortando o Rio Mamanguape. O referido rio divide os municípios de Alagoa Grande e Alagoa Nova, no Brejo Paraibano. Então a grandiosa construção pertence a ambos municípios.
Na região os habitantes não conhecem como "bueiro" mas sim como "Ponte do Quinze", devido a localização do bueiro ser neste sítio dividindo os dois municípios. Então, preferimos nomeá-lo dessa maneira, apesar dela ser um bueiro.
Chegando ao local do bueiro o que constatei realmente foi uma grandiosa obra da infraestrutura ferroviária. Esta grandiosa construção seria parte integrante do conhecido "Ramal de Penetração", consistia no prolongamento ferroviário entre Alagoa Grande até o Sertão do estado, de unindo os estados da Paraíba e Ceará.
Os estudos da construção da linha foram iniciados em fevereiro de 1921, os quais deveriam ser entregues, a medida da conclusão da respectiva locação, à companhia Great Western (GWBR), encarregada originalmente pela construção do prolongamento. De acordo com o Relatório de Viação e Obras Públicas do Governo Federal de 1921 assim estava escrito:
Os trabalhos tiveram o desenvolvimento compatível com as difficuldades resultantes do copioso inverno, no ano mesmo anno, no nordeste, e do terreno accidentado, que constitue o escarpado flanco oriental da serra da Borborema, em cujo sopé se acha a cidade de Alagoa Grande.
O primeiro trecho da etapa seria atacada entre Alagoa Grande até Esperança. O segundo trecho de Esperança a Joazeiro (Juazeirinho), o terceiro trecho de Joazeiro até Santa Luzia e o quarto trecho de Santa Luzia até Patos.
No Sertão a ferrovia se chamaria Estrada de Ferro Ceará - Parahyba, ficando a Rede de Viação Cearense (RVC) encarregada pelos trabalhos de prolongamento, avançando pela pela Paraíba em direção a São João do Rio do Peixe, Cajazeiras, passando por Sousa, Pombal, Malta até chegar a Patos, onde finalmente as duas companhias construtoras se uniriam.
Pelo Decreto n° 14.924, de 30 de julho de 1921, foram aprovados a planta de exploração e o projeto do prolongamento, na parte correspondente aos 7,8 primeiros quilômetros , a partir de Alagoa Grande.
Por não haver acordo com a GWBR na construção do trecho, foi acordado com a Inspectoria Federal de Obras Contra as Seccas (IFOCS) em dezembro de 1921 a administração e construção de Alagoa Grande até Patos, fato semelhante o que ocorrera do prolongamento Borborema a Bananeiras.
Os trabalhos iniciaram imediatamente, apesar da carência de trabalhadores especializados de assentamento da linha, prosseguindo ativamente.
Algumas obras foram construídas no trecho a partir de Alagoa Grande, dentre as obras construídas podemos destacar: Ponte do T (ponte esta localizada nas proximidades da estação local e que seria o ponto inicial do ramal), Casas da Turma (no total de 6 prédios e que ainda existem na saída da cidade), aterros, cortes na rocha e barrancos, e a famosa Ponte do Quinze sobre o Rio Mamanguape.
Porém, os trabalhos de prolongamento do Ramal de Penetração foram suspensos por ordem do Governo Federal no início de 1923 da então presidência de Arthur Bernardes, suspendendo todas as obras do IFOCS. Impossibilitando a implantação da linha férrea até este ponto. A escavação do grande Túnel da Serra da Beatriz localizado no município de Alagoa Nova atrasou bastante a obra, e quando a ordem de suspensão foi dada pelo governo apenas parte do referido túnel havia sido perfurado.
Mas o bueiro/ponte não ficou sem utilidade, serviu e serve de acesso de transporte rodoviário entre a zona rural de ambos os municípios.
Voltando a grande obra, esta iniciada no final de 1921 e início de 1922. Nada se compara no Estado da Paraíba referente a bueiro ferroviário como a Ponte do Quinze. Construída em arco pleno para melhor comportar o volume de massa distribuindo melhor a pressão sobre o mesmo. Tem cerca de 12 metros de uma ponta a outra de suas "bocas" e cerca de 8 metros de altura. Seus materiais de construção consiste em pedra maciça nas bases, concreto e ferro.
O lugar é cercado por serras formando um vale, dando-lhe aspecto pitoresco. Uma verdadeira e autêntica paisagem "brejeira". Nas proximidades do bueiro o Rio Riachão deságua no Rio Mamanguape.
Desde sua construção em 1922, apesar de ter quase 100 anos de existência, jamais sofreu abalos de sua estrutura, confirmando o tão bem feito trabalho empregado na época. Suportando bem as cheias desde então do Rio Mamanguape.
Resumindo a visita do dia, fiquei realmente bastante impressionado com a magnitude da obra. Jamais vira algo tão grandioso referente a bueiros ferroviários. Eu como visitante e aventureiro recomendo sua visitação, em períodos chuvosos o rio ganha vida formando corredeiras embelezando ainda mais o local.
Entrada norte do bueiro
Construção magnífica e sólida com quase 100 anos
Conferindo a grandiosidade da obra
Comparativo com o tamanho da "boca" na entrada norte
Construção sólida e grandiosa em comparativo
Entrada norte
Boca da entrada norte
Parte interna
Boca da entrada sul
A entrada sul está mais "escondida" pela vegetação local
Boca sul
Saída norte do bueiro
A bela região entorno do Rio Mamanguape