Olá amigos do HFPB. Este mês de outubro, é marcado por importantes e significativos momentos na história da estrada de ferro na Paraíba, e neste dia 22, outra data significativa marca o centenário de inauguração do trecho correspondente entre Borborema e Bananeiras, na antiga Estrada de Ferro Independência - Picuhy.
Depois de um certo período de paralisações nas obras de prolongamento da linha férrea em direção a Picuí, elas foram retomadas em 1920.
De acordo com o Diário Oficial da União (DOU) de 30 de Janeiro de 1920, que transcrevo da seguinte maneira (segundo grafia da época):
"O ministro de Estado da Viação o Obras publicas, em nome do Presidente
) da Republica
obra:
Resolve nomear o engenheiro João Botinas para exercer o cargo de engenheiro-chefe da nommisslo constructora do ramal ferre° de independencia.a Picuhy, no Estado • da Para-, ayba do Norte, com os vencimentos que lhe coma pearem.
• Rio de Janeiro, 26 do- janeiro de 1920.
O expediente de 28 de janeiro de 1920 trazia o seguinte:
Sr. inspector federal das Estradas: •
Passo ás vossas mãos; para VOSSO 'conhecimento, a inclusa cópia da portaria de 26 do corrente mez, mandando applicar, na construcção do ramal ferreo de independenaia. a Picuhy, no Estado da Parahyba, as iestruações regulamentares e tabelas de vencimentos approvada,s por portarias do 13 de outubro e 2 de dezembro do armo findo..."
A partir de 1921, teve início da perfuração do grande Túnel da Serra da Viração, ou Garganta da Viração, a menos de 2 quilômetros da cidade de Bananeiras. Porém, com a elevada carga de chuvas no ano de 1922 e os inúmeros acidentes ocorridos por deslizamentos, as obras se atrasaram por todo o ano.
A estação de Bananeiras já estava praticamente concluída em 1922, só esperando a total perfuração do túnel e a colocação dos trilhos. No trecho correspondente, foi construída no sítio Manitu, uma pequena e simpática estação, com casa de agente e um armazém. Esta estação serviu de ponto de apoio entre Borborema e Bananeiras, afim de atender as necessidades da população rural, que era maioria na época em relação a urbana.
O dia tão aguardado de inauguração deste trecho havia chegado. A data escolhida, 22 de outubro de 1922, marcava dois anos de governo do Dr. Solón de Lucena, o maior entusiasta do prolongamento ferroviário ao sua terra natal. Aquele domingo entraria para a história local. Finalmente, depois de anos de construção, o sonho de então levar a ferrovia a verdejante cidade de Bananeiras estava concretizada, mesmo que tenha sido na periferia desta.
De acordo com o jornal O Norte de 25 de outubro de 1922, traz com detalhes os festejos cívicos daquele dia especial (transcrito de acordo com a grafia da época):
"De Borburema, puxado pela locomotiva n° 197, toda embandeirada e coberta de ramos e flores, e onde se lia "Viva o Dr. Epitácio Pessôa" seguiu o trem que inaugurou o trecho citado, dando entrada na gare de Manitú recentemente construída e muito elegante às 13/2 horas, em baixo de enthusiasticos vivas a Epitácio Pessôa, Solon de Lucena, João Holmes e á Parahyba.
Na estação, numa grande faicha. estava escripto:
"Viva o Dr. João Holmes" e em dois grandes quadros, estas quadras:
"Pilões inteiro agradece,
Com muita sinceridade,
Do Presidente do Estado
A real neutralidade.
Ao digno dr. João Holmes,
Manitú neste momento,
Eterniza o seu justissimo
E profundo agradecimento".
Galgando a serra, a primeira locomotiva num apito agudo e prolongado, annunciou a victoria do homem, mais uma vez, sobre a natureza bruta e assim, ás 2,40, depois dum rapido percurso, no qual se ouvia constantemente o pipoucar dos foguetões, o comboio parou na estação provisoria da Bocca do Tunel, sendo os representantes do Estado recebidos pelas autoridades locaes, saudando-os, em nome de Bananeiras, o dr. Pedro Anisio Maia e o sr. Floriano Mendes.
Em poucas e enternecidas palavras, o dr. Alvaro de Carvalho agradeceu ainda uma vez em nome do exmo. presidente do Estado.
Dahi seguiram todos para a cidade, que fica distante uns dois kilometros, devido ao tunel em construcção que muito facilitará o acesso á cidade.
Desse grande tunel faltam ser perfurados concoenta metros, em rocha viva, sendo esse trabalho feito por poucos homens, avançando-se oito metros por mez, segundo informação que nos prestaram...."
Depois dessa viagem inaugural, a festa tomou conta da urbe. Foram oferecidos banquetes aos ilustres convidados, discursos de autoridades foram proferidos, girândolas sendo soltas pelos céus, visitas realizadas e uma partida de futebol entre as equipes do Bananeiras Football Club e o Borborema Sport Club. Festa que seguiu a noite inteira.
Enfim, o trecho estava pronto, faltando apenas dois quilômetros e a conclusão da perfuração do Túnel da Serra da Viração para que o sonho do então Gestor Estadual o Dr. Solón de Lucena se concluísse, que anos antes profetizara: "O trem chegará a Bananeiras nem que seja por debaixo da terra", e assim o fez.
Depois de um pouco mais de um ano, depois da perfuração total do túnel, enfim, o primeiro trem chegou a gare da estação de Bananeiras no dia 25 de novembro de 1923, sendo a estação oficialmente inaugurada em 30 de julho de 1925, com história já contada anteriormente neste blog. Dali, o ramal não mais prosseguiu, devido cortes no orçamento ao IFOCS (Inspectoria Federal de Obras Contra as Seccas) pelo Governo do Presidente Arthur Bernardes.
Deixo aqui minhas singelas homenagens a este significativo dia, mesmo que há mais de cinquenta anos todo o Ramal de Bananeiras tenha desaparecido para nunca mais voltar.
FONTES:
O Norte - 25 de outubro de 1922
Revista Era Nova, 24 de dezembro de 1922
A União - 28 de novembro de 1923
Illustração Brazileira - Outubro de 1922
Túnel da Serra da Viração em construção. A estação improvisada chamada de "Bocca do Tunel" ficava nas proximidades daqui (sentido Borborema-Bananeiras). Fonte: Revista Illustração Brazileira - outubro de 1922
Extremidade do sentido Bananeiras-Borborema do Túnel da Serra da Viração em construção. Fonte: Revista Illustração Brazileira - outubro de 1922
Festividades na chegada do comboio inaugural em 22 de outubro de 1922 a estação improvisada de "Bocca do Tunel. Fonte: Revista Era Nova - 24 de dezembro de 1922
Estação de Bananeiras ainda em construção. Fonte: Revista Illustração Brazileira - outubro de 1922
Corte no trecho Borborema a Bananeiras. Fonte: Revista Illustração Brazileira - outubro de 1922
Estação de Manitu em faze de conclusão. Fonte: Revista Illustração Brazileira - outubro de 1922
Aterro e corte no Km 288 no trecho Borborema a Bananeiras. Fonte: Revista Illustração Brazileira - outubro de 1922
Aterro e corte no Km 289 no trecho Borborema a Bananeiras. Fonte: Revista Illustração Brazileira - outubro de 1922
Corte na rocha e trecho lastrado. Fonte: Revista Illustração Brazileira - outubro de 1922