Olá amigos do HFPB. Hoje inicia uma série de postagens a respeito da história do sistema de bondes na Capital paraibana, João Pessoa, na época chamada de Parahyba.
História essa que tem seu gênese no final do século XIX, mais precisamente em 19 de abril de 1895, quando vários negociantes da capital, a firma exportadora de algodão Aron Cahn & Cia, se reuniram na sede da Associação Comercial com o objetivo de fundar uma companhia de bondes.
Inúmeras capitais brasileiras já haviam instalado seu sistema de transporte de bondes urbanos, especialmente movidos à tração animal (muares), e a capital de todos os paraibanos não poderia ficar de fora desse progresso. Dentre as capitais nordestinas contempladas com este benefício antes de João Pessoa, destacam-se: Salvador em 1866, Maceió em 1869, Recife em 1871, São Luiz em 1872 e Fortaleza em 1880. Era a vez da capital paraibana ser também agraciada com o transporte de bondes.
Sob a direção do Engenheiro Antônio Augusto de Figueiredo Carvalho, iniciou-se a construção, no dia 24 de agosto de 1895, do prédio que iria servir de escritório à Companhia Ferro-Carril Parahybana, ao lado da antiga estação da The Conde D'Eu Railway Company, esta, demolida em 1942 para a construção da atual Estação da CBTU de João Pessoa. Estiveram presente ao ato de lançamento da pedra fundamental várias autoridades e grande parte da população local.
A diretoria da Companhia Ferro Carril Parahybana, fez remessa a companhia alemã Orenstein & Koppel, da importância de 1.116 libras esterlinas como primeira prestação do contrato para o fornecimento do material para a implantação da referida ferro-carril.
De acordo com o jornal A União de 22 de fevereiro de 1896:
"Segundo aviso recebido hontemda casa Orenstein & Koppel, de Berlin, embarcou em data de 30 de Janeiro ultimo no navio de vella "Luna" o material encommendado aquella casa para a nossa linha de bonds. Parabéns, pois, aos accionistas da mesma, que irão, em breve, ver realisado este melhoramento em nossa capital."
No dia 28 de março de 1896, chegou ao Porto de Cabedelo, o navio Luna, com todo o material necessário para a implantação da linha.
Os trabalhos seguiram em ritmo acelerado, até que o tão esperado dia de inauguração chegou, aquele 6 de junho de 1896, entraria definitivo para a história do sistema de transportes urbanos paraibano.
De acordo com o excelente livro "Roteiro Sentimental de Uma Cidade" de Walfredo Rodriguez, 2° Edição, 1994, descreve o trajeto inicial da linha da Ferro-Carril:
"Partindo da Praça Álvaro Machado, a linha passava pela Praça Pedro II (atual 15 de Novembro), subia a Visconde de Inhaúma, curvando à direita pela Rua do Comércio (posteriormente Maciel Pinheiro); subia a curva, à esquerda, pela Estrada do Carro (depois da guerra civil de Canudos denominada de Rua Barão do Triunfo), passando, em curva, à direita, pela frente do antigo Quartel do 27.° Batalhão de Linha, no Largo Cel. Bento da Gama, (na atualidade, Praça Pedro Américo), e daí curvando, à esquerda, subia a Rua do Fogo (Avenida Guedes Pereira dos nossos dias), para tornar a fortemente íngrime Ladeira do Rosário. Ali bifurcando à direita, seguia pela Rua Direita, passando em frente ao Palácio do Govêrno, Rua Bom Jesus dos Martírios até a Igreja do mesmo nome, onde estavam as pontas dos trilhos."
Como não poderia ser, a festividade tomou conta de todos os recantos da cidade. Os pontos terminais da linha foram enfeitados com bandeirolas, os bondes foram ornados com folhas de pitangueiras e galhardete (tipo de bandeira usada no âmbito náutico, geralmente em formato triangular). Durante a noite mais festividades se seguiram, com a queima de fogos de artifício, além da banda de música do 27° Batalhão da Polícia, animando os festejos daquele dia histórico.
Este tráfego provisório de 1,2 Km de extensão, ficou conhecido como "Linha do Comércio", tornou-se a melhor opção para o percurso, transformando em definitivo. Não terminou por aí, em pouco tempo após a abertura do tráfego em 6 de junho, a Companhia Ferro-Carril Parahybana, abriu mais duas extensões de suas linhas.
A Linha do Tambiá, fazia o mesmo percurso da Linha do Comércio, passando pela Igreja do Rosário dos Pretos, dobrava à esquerda, alcançando a Rua Duque de Caxias, passava pela Rua São Francisco, ia até o Campo do Conselheiro Henriques, onde era o ponto terminal do ramal, em frente ao Convento e Igreja Nossa Senhora do Carmo. O percurso somado partindo da Igreja do Rosário até a do Carmo, era relativamente curto, com 500 metros de extensão, somados aos 1,750 metros desde seu ponto inicial.
A Linha das Trincheiras, foi a segunda a ser aberta naquele mesmo ano, seguia o mesmo traçado da Linha do Comércio, passando pela Igreja do Rosário dos Pretos, dobrava à direita, percorrendo 600 metros passando pela Rua Duque de Caixas, passando na lateral do Campo do Comendador Felizardo, como também na frente do Lyceu Parahybano, pelo Palácio do Governo, até seguir para a Rua das Trincheiras onde o ponto terminal era em frente a Igreja Bom Jesus dos Martírios. O percurso total entre o ponto inicial até o terminal, defronte a Igreja dos Martírios era de 1,800 metros.
Durante este período de expansão dos referidos ramais, foi acrescentado também um desvio, afim de facilitar no retorno dos bondes para a chamada Linha Comércio ao ponto inicial do Largo da Gameleira. Este desvio iniciava logo após a subida da Ladeira do Rosário, quando a linha bifurcava e seguia para a à direita, alcançando a Rua Duque de Caxias, este bifurcava em seguida à esquerda na primeira esquina, adentrando no Beco do Barão, seguiam curvando à esquerda, percorrendo o pátio da Igreja Nossa Senhora das Mercês, e, na primeira esquina, novamente à esquerda, entrava no Beco do Rosário, passando pelo oitão da Igreja do Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, chegando novamente à Rua Duque de Caxias, contornando, assim, todo o quarteirão e pronto para descer a Ladeira do Rosário em direção à Cidade Baixa. Resumindo, dava um contorno completo pelo quarteirão. Este desvio serviu para as manobras dos bondes das referidas linhas.
Já nos primeiros anos do século XX, em 1902, mais precisamente, foi executado outro prolongamento dos trilhos, desta vez a partir do ramal da Linha das Trincheiras.
Este novo prolongamento partiria da Igreja de nossa Senhora dos Martírios, prosseguia passando pela casa do Sr. Neófilo Bonavides, prosseguindo pela Avenida São Paulo até chegar na antiga Feira de Jaguaribe, num percurso de 700 metros.
Segundo algumas fontes, a implantação deste trecho se deu fundamentalmente pela referida feira. A citada feira localizava-se no cruzamento da antiga Avenida São Paulo, com a Rua do Hipódromo, atualmente Avenida 1° de Maio, e a Avenida 12 de Outubro, onde foi construída a Praça General João Neiva. (Continua na Parte II)...
Fontes:
Roteiro Sentimental de Uma Cidade, Walfredo Rodriguez, Ed. A União, 2° Edição, 1994.
Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa, Dr. Álvaro Lopes Machado, 20 de Outubro de 1905.
Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa, Monsenhor Walfredo Leal, 1 de Setembro de 1906.
Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa, Monsenhor Walfredo Leal, 1 de Setembro de 1907.
...E O BONDE A BURRO FOI IMPLANTADO: um ícone de modernidade da cidade da Parahyba no final do século XIX. José Estevam de Medeiros Filho, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, UFBA, 2013.
Estação da Praça Álvaro Machado em 1903. Ponto inicial do sistema de Bondes de Animais da então Parahyba, inaugurado em 6 de junho de 1896. Fonte da imagem: Jampadasantigas, Instagram
Praça Álvaro Machado em princípios do Século XX, no canto esquerdo pode-se observar a sede da Companhia Ferro-Carril Parahybana, ao centro a estação ferroviária de 'Parahyba'.
Horários da Companhia Ferro-Carril Parahybana. Fonte: Almanak do Estado da Parahyba, 1899
Bonde de Animais restaurado localizado na Usina Cultural Energiza em João Pessoa. Foto em maio de 2015 em visita do autor ao local.
Bonde de Animais restaurado localizado na Usina Cultural Energiza em João Pessoa. Foto em maio de 2015 em visita do autor ao local.
Bonde de Animais restaurado localizado na Usina Cultural Energiza em João Pessoa. Foto em maio de 2015 em visita do autor ao local.
Bonde de Animais restaurado localizado na Usina Cultural Energiza em João Pessoa. Foto em maio de 2015 em visita do autor ao local.