terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Locomotiva em Miniatura Artesanal do Tipo "Mogul" da GWBR

Olá amigos do HFPB. Nesta última postagem deste ano que se despede, postagem esta que me trouxe grande satisfação, já que realizei um sonho de alguns anos.
A satisfação a que me refiro se trata da confecção e término do meu modelo artesanal de uma locomotiva do tipo "mogul" da North British Locomotive Company de 1904 da saudosa GWBR.
Na postagem anterior, trouxe um pouco da história desta célebre locomotiva durante décadas nos quatro estados nordestinos contemplados pela companhia inglesa.  
Depois de quatro meses de trabalhos ininterruptos entre agosto ao início de dezembro, eis que enfim, conclui com sucesso a confecção do modelo. 
O material usado foi o mais simples possível, dentre elas; papel craft (várias espessuras), isopor, arames de guarda chuva, tubetes plásticos, cano pvc, papel comum, cola branca e de isopor, palitos de picolé, dente e de churrasco, entre outros materiais de fácil acesso.
O modelo é uma 248, locomotiva esta utilizada na inauguração do trecho entre Campina Grande e Soledade em 21 de janeiro de 1956, porém já pertencente ao quadro da RFN (Rede Ferroviária do Nordeste).
Ao todo o modelo tem 50 cm de comprimento, 7 cm de largura e 13 cm de altura (chaminé). 
Como havia dito no início da postagem, a idealização e planejamento foi feito há mais de um ano, porém só em agosto do corrente ano que de fato iniciei a montagem da mesma com a confecção das plantas. 
A cada dia uma parte era realizada, com total paciência e minuciosidade. Lógico, infelizmente o modelo não está 100 % idêntico ao original, devido ao pouco material fotográfico disponível. Porém, com a ajuda de amigos que me ajudaram bastante na descrição e incentivo na modelagem da peça eis que trago a vocês esta etapa cumprida. 
Dentre os amigos que me ajudaram nesta empreitada se destacam; Jonas Martins, pesquisador ferroviário de Minas Gerais, fornecedor de imagens raras; William "Eddie" Edmundson, cônsul inglês e pesquisador ferroviário autor do livro sobre a Great Western; Jota "Mack", aviador aposentado e profundo conhecedor de locomotivas da GWBR, entre elas as mogul; André Cardoso, guia do Museu do Trem em Recife e pesquisador ferroviário me fornecendo fotos do modelo preservado no referido museu; Emival G. Barros, pirpiritubense e pesquisador ferroviário que me incentivou a construir o modelo em questão.
Agradeço a estas pessoas citadas que me ajudaram e muito, sem elas este modelo praticamente não existiria.
Nesta última postagem de 2019, ano de nosso aniversário de 10 anos, agradeço a todos vocês e desejo um FELIZ ANO NOVO. Confira os detalhes abaixo:
















sábado, 21 de dezembro de 2019

As Famosas Locomotivas "Mogul" da North British Locomotive Company

Olá amigos da HFPB. Hoje trago uma pequena história das célebres locomotivas do tipo "mogul", ou também " duzentas", como ficaram popularmente conhecidas durante o período de atividades na GWBR e depois na RFN.
A locomotiva em questão homenageada nesta postagem, se trata de uma loco do tipo "mogul", de acordo com a classificação whyte de configuração de eixo 2-6-0, construída pela North British Locomotive Company em Glasgow, Escócia do ano de 1904. 
Estas célebres locomotivas britânicas foram a espinha dorsal da companhia Great Western of Brazil Railway (GWBR) nos estados contemplados pela mesma. Foram adquiridas entre 1904 a 1914 mais de oitenta locomotivas deste tipo. Além das mogul, a GWBR também adquiriu da fabricante escocesa os tipos "consolidation" (2-8-0), "mastodon" (4-8-0) e "american" (4-4-0), de acordo com a classificação whyte, esta última atendendo o ramal suburbano de Recife. 
As duzentas foram muito populares durante sessenta anos por onde passou, deixaram sua marca e desempenho comprovados por todos que as operavam.
As "duzentas" tinham em média 15,3 metros de comprimento e 3,7 metros de altura máxima. 
A capacidade do tender era de 9.092 litros d'água, velocidade máxima de 60 km/h, peso aderente de 31.009 kg, rodas motrizes de 1.067 m/m e guia de 787 m/m.
Foram amplamente empregadas em trens de passageiros, cargas e mistos.
Durante as décadas de 1940 e 1950, muitas foram convertidas para queimarem óleo combustível no lugar de lenha ou carvão. Muitas duzentas ainda queimavam lenha em suas caldeiras, como a exemplo da locomotiva de número 248, locomotiva esta que foi a responsável pela inauguração do trecho entre Campina Grande a Soledade no dia 20 de janeiro de 1956, em mais uma etapa de prolongamento do ramal Campina Grande - Patos, inaugurado oficialmente no dia 8 de fevereiro de 1958.
Estas locomotivas em especial receberam um tipo de chaminé que ficaria conhecida como "chaminé balão", devido seu formato se assemelhar com um balão junino. Consistia em reter fagulhas expelidas durante a queima da lenha nas caldeiras, que poderiam causar incêndios entre outros incidentes antes constatados.
Durante sessenta anos estas foram as mais comuns vistas nas estações dos quatro estados cortados pela GWBR e posteriormente RFN, até o fim de sua vida útil a partir da década de 1960, quando foram aposentadas e lamentavelmente cortadas a maçarico, restando praticamente nenhuma (a exceção da número 17 que está localizada no Museu do Trem em Recife e que em 1950 foi convertida para manobreira, sendo esta recebendo a configuração de eixos 2-6-2 e eliminando o tender, com o tranque d'água adicionado na lateral da mesma) no acervo da companhia. Sendo substituídas pelas locomotivas diesel elétricas.
Para os mais saudosistas, as "duzentas" foram símbolo de força e determinação. Aqui deixo minha singela homenagem a estas célebres "senhoras de ferro".

Fontes: Relatório de Locomotivas da Rede Ferroviária do Nordeste em maio de 1959.
Agradecemos a colaboração de Jota " "Mack" de Recife, André Cardoso do Museu do Trem e de Jonas Martins pelo fornecimento de algumas imagens.

Foto de fábrica de 1904 da mogul North British

Abaixo, várias mogul duzentas em diversas localidades no Nordeste:





Em Itabaiana no ano de 1959


Em Borborema na década de 1950



terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Estação de Acauã - Local de Uma Fazenda Histórica no Sertão

Olá amigos do HFPB. Hoje trago a todos vocês mais uma história da série de estações sertanejas. Desta vez contaremos um pouco da história da estação de Acauã, localizada no município de Aparecida, na região de Sousa.
A estação Acauã tem sua história ligada diretamente com a mítica e histórica Fazenda Acauã, uma das mais importantes e antigas de todo o Sertão nordestino. A história da ferrovia na localidade se confunde com a história da fazenda.
a história desta fazenda data de 1760, quando a casa e capela foram construídas. O sobrado anexo a capela fora construída em princípios do século XIX. Seu valor histórico está no fato de ter sido de propriedade do padre Luiz José Correia de Sá, que teve importante participação na revolta de 1817, e por também ter abrigado em caráter de preso rebelado contra os imperialistas de 1824, o Frei Caneca. A capela com torre sineira, é decorada interiormente com talhas e pinturas de delicado acabamento, e está localizada entre o sobrado e a casa térrea, sendo esta protegida contra o sol por alpendre nas fachadas. Tanto a capela quanto o sobrado, tem beirais em cimalha de boca de telha.  
Todo o complexo arquitetônico foi tombado pelo IPHAN em 27 de janeiro de 1967. Em junho de 1988 o complexo histórico foi adquirido pelo Governo Estadual. Nos últimos 10 anos o complexo passou por restaurações.
A história da construção da linha férrea cortando as terras da referida fazenda se deu por conta da necessidade do Governo Federal no início da década de 1920 através do então IFOCS (Inspectoria Federal de Obras Contra as Seccas) construir estradas de ferro pelo interior nordestino e barragens afim de amenizar os efeitos das prolongadas estiagens e melhor acesso entre as localidades sertanejas. 
O ramal que parta de Paiano, no Sertão cearense, alcançou o município de São João do Rio do Peixe em 1922, Cajazeiras em 1923 e Sousa em 1926. O caminho de ferro deveria seguir com destino a Patos, porém com a paralisação das obras por parte do Governo Federal onde o mesmo cortou verbas do IFOCS destinado ao prolongamento da via férrea em 1923, o trecho correspondente entre Sousa a Pombal, Pombal a Malta e de Malta a Patos ficaram quase que paralisados. Sendo realizados apenas a conclusão do trecho até Sousa, cuja estação foi inaugurada no dia  13 de maio de 1926 pela RVC (Rede de Viação Cearense) que ficou encarregada na administração da malha ferroviária sertaneja.
Com a subida ao poder do Presidente Getúlio Vargas em 1930, foram retomadas as obras do trecho entre Sousa e Pombal, e o prolongamento passaria justamente defronte a histórica fazenda. Foram contratados inúmeros trabalhadores para tal obra, que ficou encarregada novamente pelo IFOCS.    
Dentre estes contratados se destaca a figura do Engenheiro José Rodrigues Ferreira, nascido nos Estados Unidos e naturalizado brasileiro. O Engenheiro Ferreira era contratado pelo IFOCS/RVC para o prolongamento férreo. Quando esteve na Paraíba o Engenheiro Ferreira soube da existência de uma grande fazenda que estaria sendo vendida, esta fazenda pertencia ao Dr. João Suassuna. Quando o ex-governador João Suassuna foi assassinado no Rio de Janeiro em outubro de 1930, a fazenda passou para a viúva Dona Rita Vilar. Em 1932 ela vendeu sua parte ao Engenheiro Ferreira. A partir de 1932 o Engenheiro Ferreira passou a ser o dono exclusivo da Fazenda Acauã, onde administrou perfeitamente entre esta data até sua morte em 1952.
O trecho entre Sousa e Pombal foi inaugurado em 24 de outubro de 1932, concluindo mais uma etapa no prolongamento do ramal do Sertão, que por sua vez se uniria ao ramal de Penetração, partindo de Alagoa Grande, mas que teve os planos cancelados anos antes. Lembrando que este trecho não avançou em direção a Patos até 1944, quando o ramal foi prolongado em direção a esta cidade.
A antiga estação de Acauã ficava a alguns metros de distância da referida fazenda, o qual se beneficiou diretamente do transporte ferroviário. 
O Engenheiro Ferreira posteriormente construiu uma usina de oiticica, de beneficiamento do algodão, construção de barragens, além de vasta criação de gado bovino. Realmente uma fazenda extremamente próspera.
A estação além do transporte de mercadorias da fazenda e da região, também era destinada ao transporte de passageiros, onde foi construída uma casa do chefe da estação e caixa d'água para o abastecimento das locomotivas a vapor.
Infelizmente com o fim do tráfego de passageiros na década de 1970/80 na região, a estação foi demolida sem houver nenhum respeito com a memória ferroviária local. Um verdadeiro crime contra o patrimônio histórico. Em 2013, o último trem de carga passou pela região sem a menor perspectiva de volta.

Fontes e fotos: "O Apóstolo do Sertão" (mini documentário a respeito do Engenheiro Ferreira produzido por Laércio Filho em 2008.
http://agenciaeconordeste.com.br/fazenda-acaua-e-icone-da-reforma-agraria-no-nordeste/
http://www.ipatrimonio.org/?p=20316


Estação de Acauã ao fundo.

Gado bovino do Engenheiro José Rodrigues Ferreira. Na lado direito pode observar parte da estação.

Família do Eng. Ferreira na década de cinquenta. No lado esquerdo parte da estação.

Fazenda Acauã e usinas ao lado.

Usina de beneficiamento de algodão e oiticica.

A histórica Fazenda Acauã.

Linha férrea defronte ao complexo histórico.