quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Estado Atual da Estação de Soledade

Olá amigos do HFPB. Ontem, 21 de janeiro, completou exatos 64 anos da chegada do primeiro trem a estação de Soledade, como foi publicada na postagem anterior. 
Realizei uma visita a estação local depois de quase dez anos. Em julho de 2010 realizei a primeira e única visita a referida estação até então, retornando apenas ontem. O quadro é praticamente o mesmo, abandono total. Desta vez com um agravante ainda maior, o ramal está desativado desde aquela época e o mato, abandono e descaso tomando conta de tudo.
Em um trecho de aproximadamente 2 quilômetros, entre Soledade e a Ponte do Rio Soledade, no Açude de mesmo nome furtaram em junho de 2019 grande quantidade de trilhos, os criminosos atuavam em vários pontos do estado. Lamentável esta situação. Isto será explanado em uma postagem futura.
Lamentavelmente a situação da ferrovia no interior do Estado é simplesmente calamitosa, desde que os trens de cargas foram suspensos em princípios da década de 2010. Contudo, a estação de Soledade já estava abandonada desde a década de 1990, quando a antiga RFFSA foi extinta, fechando várias estações. 
Tudo foi saqueado na estação, inclusive a cobertura juntamente com portas e janelas, ficando apenas o "esqueleto" da estação e do armazém próximo.
Soledade foi uma das mais importantes estações do ramal que ligava Campina Grande ao Sertão do estado, esta ligação proporcionando o transito entre os estados da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará via férrea. Criando um verdadeiro "cinturão de ferro" entre estes estados nordestinos.
Hoje o que resta é a tristeza de constatar mais um inaceitável abandono de nossa malha ferroviária. Até quando eu me pergunto sobre esta terrível situação.
Confira abaixo imagens da estação e seu entorno do completo abandono que se instaurou na localidade.

A histórica estação de Soledade que infelizmente depois de 64 anos não tem o que comemorar

Antiga entrada da estação 

Visão defronte da estação. Foi aqui neste local onde foram feitas as comemorações de sua inauguração em 21 de janeiro de 1956. Hoje, só o abandono

Aspectos do abandono

O horizonte que muitas vezes viu trens passar, hoje resta apena a saudade

o antigo armazém abandonado, seguindo a mesma linha da estação 

Visão defronte do armazém

Velha "Chave de Agulha" tipo "Queijo Suísso" 

O belo ladrilho em mosaico típico da década de 1950 do piso do rol de entrada da estação
 
Repartição da área de bagagens da estação

Ao fundo, algarobeiras cobrindo o leito ferroviário. Lamentável.

Outro belo tipo de mosaico em outra repartição do telegrafia estação

Lateral do armazém 

Antiga área da bilheteria há muito tempo, hoje só as ruínas e abandono

Entrada da seção de bagagens da estação

Aterro próximo a estação, destinado originalmente a manobras de locomotiva conhecido como "Triângulo Invertido". Há muito tempo foram retirados os trilhos.

Aspecto da estação

Armazém. Um dia este depósito ficou repleto de mercadorias diversas

O "Queijo Suíço", parte da chave de agulha construído em 1880 na Inglaterra

A estação e a chuva ao fundo, na tarde do dia 21 de janeiro

Uma das várias entradas da estação, esta destinada a bilheteria


Uma das janelas furtadas, assim como todas as portas, telhados entre outros

Há 64 Anos Chegava o Primeiro Trem a Soledade

Olá amigos do HFPB. Em visita ao município de Soledade, ontem, 21 de janeiro, foi uma data especial para a história desta cidade, há exatos 64 anos, ou seja, no dia 21 de janeiro de 1956, chegava em Soledade o primeiro trem na estação recém construída. 
A inauguração do trecho correspondente entre Campina Grande a Soledade, foi mais uma etapa concluída do prolongamento Campina Grande - Patos, inaugurado oficialmente no dia 8 de fevereiro de 1958.
Os trabalhos de prolongamento deste trecho de 74 quilômetros entre Campina Grande - Soledade ficaram a cargo do DNEF (Departamento Nacional de Estradas de Ferro) esta contando para sua execução, com a colaboração, através de empreitadas, da RFN (Rede Ferroviária do Nordeste), além das empresas especializadas em construções ferroviárias, Empresa Construtora Camillo Collier Ltda, e Empresa Construtora Castro & Ferreira Ltda.
Quando o primeiro trecho do prolongamento foi inaugurado entre Campina Grande e Puxinanã no dia 4 de abril de 1951, os trabalhos não cessaram e prosseguiram em tamanha rapidez, já que grande parte das obras d'arte já estavam praticamente concluídas em 1954, restando apenas a construção da referida estação e colocação dos trilhos, totalmente concluídos em 1955.
De acordo com a matéria do jornal Diário de Pernambuco de 25 de janeiro de 1956 sobre a importante realização: 
"Sob aclamação dos sertanejos, muitos dos quais viam pela primeira vez uma locomotiva, teve lugar às 12 horas do sábado passado, a chegada do comboio repleto de operários em frente à pequenina estação. Presentes também se achavam o prefeito e vereadores da cidade, engenheiros das construções ferroviárias e suas famílias, jornalistas de Pernambuco e da Paraíba e radialistas da Rádio Borborema e Rádio Caturité.
Representaram a administração da Rede Ferroviária do Nordeste engenheiro Orlando Muniz da Rocha, chefe do Departamento de Obras Novas; e o Distrito de Construção - 3, do DNEF, o engenheiro Lauriston Pessoa Monteiro.
Em frente à estação de Soledade teve lugar a cerimônia de exaltação ao trabalho dos cassacos (denominação dada ao trabalhador da linha férrea), usando da palavra, inicialmente o prefeito do município Sr. José Ferreira Ramos, que agradeceu o esforço dos quantos contribuíram para aquela obra. Seguiram-se com a palavra o engenheiro Lauriston Pessoa Monteiro, chefe do Distrito de Construção - 3, que se congratulou com os colegas e operários, no momento em que venciam mais uma etapa no árduo trabalho de construção de novas estradas de ferro, e, por fim, o engenheiro Orlando Muniz da Rocha que, em nome da alta administração da Rede Ferroviária do Nordeste, saudou o povo da Paraíba pelo acontecimento que acabava de presenciar".
Estas foram as solenidades realizadas naquele dia histórico, porém de forma extraoficial. Oficialmente, o trecho foi aberto ao tráfego de passageiros em fevereiro de 1957, no ano seguinte, quando foi inaugurada a estação do vizinho município de Juazeirinho.
O tráfego entre Campina Grande e Juazeirinho passou a vigorar a partir daquela data.
No caso da locomotiva inaugural, ela chegou na estação as 12:00 horas festivamente recepcionada. Tratava-se de uma locomotiva do tipo "mogul", com jogo de rodas 2-6-0, construída pela North British Locomotive Company em 1904, com número de 248, movida a vapor de lenha. 
No trecho inaugurado em 21 de janeiro de 1956, entre Campina Grande e Soledade, foram construídas 208 obras d'arte, inclusive 8 grandes pontes, inúmeros bueiros, cortes, aterros, pontilhões e um aterro-barragem na localidade Espírito Santo, servindo esta de abastecimento da população local além de abastecer as locomotivas a vapor na época.
Também na localidade Espírito Santo (município de Olivedos, perto com o município de Soledade) foi construída uma pequena parada em concreto armado para a população rural.
A partir de Soledade seriam construídos mais 112 quilômetros até chegar em seu destino final, Patos, no Sertão paraibano, em um total de 186 quilômetros de ferrovia entre Campina Grande e Patos.
Os trens percorreram o ramal até ser totalmente abandonado em princípios da década de 2010. Lamentavelmente a estação está totalmente abandonada e deteriorada.

Fontes: Diário de Pernambuco - 25 de janeiro de 1956
Diário da Borborema - fevereiro de 1958


Estação de Soledade em 1957. Foto Diário da Borborema - fev, 1958.

Uma das oito pontes construídas no trecho correspondente Campina Grande - Soledade. Total de 208 obras d'arte. Foto: Diário da Borborema - fev, 1958.

A estação na tarde de 21 de janeiro, dia de seus 64 anos de inauguração.

Defronte a estação, local da cerimônia de chegada do trem inaugural em 21-01-1956.

Registro ao lado da deteriorada estação de Soledade.

Locomotiva do tipo "mogul" semelhante a 248 da viagem inaugural até Soledade em 21-01-1956.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

13 de Janeiro de 2020 - Cinquenta Anos do Maior Desastre Ferroviário da Paraíba - Curva da "Maria Cabocla"

Olá amigos do HFPB. Hoje, 13 de janeiro de 2020, na primeira postagem deste ano, completa exatos 50 anos do maior desastre ferroviário da Paraíba
Este desastre, já foi publicado anteriormente, por três vezes, porém, a postagem de hoje, tem uma conotação especial, se trata do cinquentenário da terrível tragédia do descarrilamento do trem BN-2, conduzida pela locomotiva diesel-elétrica da Alco de número 819, na chamada "Curva da Maria Cabocla".
Localizada entre Campina Grande e o distrito de Galante, no KM 61 do ramal da RFN até Sousa, a 2,5 km da estação de Galante, a tragédia da "Curva da Maria Cabocla" já foi tema em postagens anteriores. Segundo relatos de moradores da região, o local tem um histórico de acidentes ocorridos anos antes, sem maiores consequências, porém, naquele dia 13 de janeiro, ocorreu diferente, um acidente de proporções trágicas.
A história do acidente foi relatada nestas postagens mais antigas, portanto não será necessário relembrar com detalhes o ocorrido naquela fatídica terça-feira, dia 13 de janeiro de 1970.
Em memória as vítimas, visitei pela manhã o local exato do acidente. No local foi erguido uma capela de denominação Nossa Senhora das Dores, em homenagem as vítimas, deixando um saldo de 13 mortes e aproximadamente 149 feridos. A referida capela foi inaugurada em 13 de janeiro de 1971.
A tragédia ainda está viva na memória de muitos, como o do Sr. José Vicente, conhecido como Graciano, ferroviário aposentado que coincidentemente estava em transito nesta manhã na localidade e tive a oportunidade de conversar um pouco sobre o fato. Ele me relatou que no trecho entre Galante e Ingá ocorria inúmeros descarrilamentos, sobretudo de composições de cargas. "Para se ter uma ideia, chegava a descarrilar até duas composições por semana." Relata o senhor José Vicente pela grande quantidade de descarrilamentos no período em que esteve a serviço da RFFSA no trecho serrano do Ramal Itabaiana - Campina Grande
Realmente, no trecho mencionado pelo ex-ferroviário a quantidade de curvas, subidas e descidas pelo Planalto da Borborema é bem elevada, requerendo uma habilidade ímpar ao maquinista de tais composições. 
Mas como mencionado em postagens anteriormente, há controvérsias do real motivo do fato, uns afirmam alta velocidade por parte do maquinista, e o mesmo afirma que um "refluxo" tenha ocasionado o tombamento dos carros de passageiros levando a um grande barranco com cerca de 6 metros de altura.
Neste cinquentenário, deste trágico acidente, deixo aqui minhas singelas homenagens a todas as vítimas daquela fatídica tarde de 13 de janeiro de 1970. 

A famosa, porém trágica Curva da Maria Cabocla cinquenta anos depois da tragédia.

Local exato aonde a composição tombou, deixando um saldo de 17 mortes de mais de 140 pessoas feridas.

Altura do grande aterro cujo a composição veio abaixo

Registro no início da curva, ao fundo observa-se a Capela de Nossa Senhora das Dores

Capela de Nossa Senhora das Dores, erguida em 1971 em homenagem as vítimas do trágico acidente

Registro ao lado da Capela Nossa Senhora as Dores

Percorrendo o trecho