terça-feira, 27 de julho de 2021

Estado Atual da Estação de Engenheiro Benévolo

Olá amigo do HFPB. É com imensa satisfação que recebi gentilmente do amigo pocinhense Daniel Felix Rodrigues, mais conhecido na região como Tomás D.F.R., imagens de uma visita realizada pelo mesmo a antiga estação de Engenheiro Benévolo, localizada a 14 km da sede municipal de Pocinhos
A visita foi feita na tarde de domingo, dia 25 do corrente mês, com sua bike. Tomás, tem um canal na plataforma Youtube, que trata de assuntos de mistério e lugares abandonados e históricos da região.
A situação constatada não é nada agradável. Infelizmente a estação está em ruínas, em total estado de abandono. Até mesmo a antiga plataforma teve seus blocos de pedra furtados, uma verdadeira lástima. Telhado, portas, janelas, fiação e iluminação interna e externa, tiveram o mesmo destino. Boa parte da estrutura interna de paredes foi demolida, e no alto onde se encontravam os dísticos na lateral também desapareceu. O entulho destas intervenções se encontra espalhada pelo interior e exterior do prédio. 
O estado de conservação não é nada agradável, mas pelo menos, a estação, mesmo com todo este abandono e deterioração, ainda continua de pé, como testemunha dos tempos áureos do transporte ferroviário pelo Estado.  
Mas este cenário de total abandono e deterioração do prédio já era esperado. Em meados de 1980 o tráfego de trens de passageiros no interior paraibano foi interrompido para nunca mais voltar. Algumas estações que integravam o trecho entre Paraíba e Ceará, eram exclusivas apenas para o transporte de passageiros, sendo que estas dependiam diretamente deste fluxo. Com a interrupção deste sistema, elas perderam suas funções de embarque e desembarque de passageiros, acarretando fechamentos e abandonos. 
Engenheiro Benévolo não foi diferente, a estação atendia principalmente habitantes da zona rural dos municípios de Pocinhos e Olivedos. Estas pessoas dependiam exclusivamente do transporte ferroviário de passageiros, já que na época, somente por via férrea poderiam chegar a  grandes centros urbanos regionais a exemplo de Campina GrandeJoão PessoaFortaleza, Recife, Natal, entre outras. Desde a década de 1980 encontrasse neste estado, piorando ainda mais com as seguidas "pilhagens" em sua estrutura. 
A estação foi construída no lugar conhecido como Lagamar, próximo da divisa entre os municípios de Pocinhos e Olivedos, a cerca de 13,5 km da estação de Pocinhos e a 52 km da estação de Campina Grande.
Construída pela Empresa Construtora Camillo Collier Ltda, constituía uma das estações do ramal entre Campina Grande a Patos, iniciada no final da década de 1940 e concluída em sua totalidade em 8 de fevereiro de 1958, quando foi festivamente entregue o trecho. Seguia a linha arquitetônica de estações do ramal, ou seja, em estilo Art Decó, vigente na época. Não há evidências no local que tenha existido um armazém, porém 
A primeira vez que a estação recebeu um trem foi no dia 21 de janeiro de 1956, quando ocorreu a entrega festiva do trecho entre Campina Grande e Soledade. No ano seguinte, em fevereiro de 1957, teve início o tráfego de trens de passageiros e cargas entre Campina Grande e Juazeirinho.
O ramal se encontra em total abandono, desde o início da década de 2010, quando o tráfego de trens de cargas fora interrompida, e até o momento não tem projeto de retorno. 
Agradeço mais uma vez ao amigo Tomás D.F.R. pelo envio destas preciosas imagens. O link do seu  canal no youtube é este, se inscrevam:

A deteriorada estação de Engenheiro Benévolo. Detalhe que nem a plataforma escapou da "pilhagem". Foto: Tomás D.F.R. 

A estação de Engenheiro Benévolo, a muito tempo abandonada e deteriorada. Foto: Tomás D.F.R. 

A estação de Engenheiro Benévolo, a muito tempo abandonada e deteriorada. Foto: Tomás D.F.R. 

Vista da antiga entrada da estação de Engenheiro Benévolo. Foto: Tomás D.F.R. 

Aspecto interno bastante deteriorado da estação. Foto: Tomás D.F.R. 

Mais um aspecto interno onde as paredes foram derrubadas. Foto: Tomás D.F.R. 

Aspecto externo da estação, com a parte superior onde se localizava o dístico desaparecida há tempos. Foto: Tomás D.F.R. 

Mais um aspecto da antiga entrada da estação. Foto: Tomás D.F.R. 

Daniel Felix Rodrigues, mais conhecido como "Tomás D.F.R.", expedição a bike a estação de Engenheiro Benévolo no dia 25 de julho de 2021. Gentilmente enviou todas as imagens. Foto: Tomás D.F.R. 

terça-feira, 13 de julho de 2021

Raridade - Bilhete de Passageiros da Great Western

Olá amigos do HFPB. Hoje trago a todos vocês uma raridade enviada gentilmente pelo pesquisador Daniel da Silva Fernandes de Guarabira. Trata-se de um antigo bilhete de passageiros da imemorial Great Western of Brazil Railway (GWBR) pertencente ao Senhor Eduardo Cavalcanti, mas o mesmo não explicou a Daniel a quem pertencia na época, provavelmente alguém da família.
O bilhete remete a uma viagem realizada entre as estações de Parahyba (João Pessoa) a Guarabira no dia 1 de janeiro de 1930 com o preço de 13$600, uma quarta-feira em uma distância entre as duas cidades via férrea é de 95 quilômetros. 
Não dá pra notar de a passagem é de 1° ou 2° classes, já que foi trincada mesmo acima do número indicativo, porém acredito que tenha sido de segunda classe.
Segundo um anuncio da companhia através do jornal Diário de Pernambuco circulado em 7 de fevereiro de 1929, os horários passaram por mudanças da Seção Norte, saindo de Cabedelo as 9:40 horas aos domingos, segundas, quartas e sextas-feiras, em lugar das 8:00 horas antes marcada com destino as estações de Entroncamento (Paula Cavalcanti) e Guarabira.
Realmente é uma peça rara e bem conservada, já que se passaram mais de 91 anos deste bilhete. 



Raridade - Bilhete da antiga Great Western em 1930

Anuncio da Great Western de 7 de fevereiro de 1929 estabelecendo um novo horário para o trecho até Guarabira

Estação de Parahyba (João Pessoa) no final da década de 1920. Local de partida do referido bilhete.

Estação de Guarabira. Local de destino da viagem de 1 de janeiro de 1930.

domingo, 4 de julho de 2021

120 Anos de Inauguração do Ramal de Alagoa Grande

Olá amigos do HFPB. No último dia 01 de julho de 2021, foi comemorada uma data muito especial para a cidade de Alagoa Grande e para a história ferroviária paraibana como um todo. Há 120 anos, era inaugurado o trecho correspondente entre a então povoação de Mulungu até Alagoa Grande, trecho este de 24 quilômetros. Um sonho que vinha desde antes mesmo da implantação do primeiro trilho em solo paraibano. 
De acordo com o Relatório do Governo Federal de Viação e Obras Públicas do Governo Federal de 1901 que traz o seguinte:

"Após o contracto celebrado em 22 de janeiro de 1900 entre o Governo e a companhia Conde D’Eu Railway para a conclusão e trafego do trecho de Mulungú até Alagôa Grande, a mesma companhia submetteu à consideração deste Ministério o orçamento das despesas a fazer com as obras, orçamento este que foi approvado pelo decreto n.3856, de 15 de dezembro de 1900, posteriormente rectificado pelo de n. 3984, de 2 de abril ultimo. A rectificação constituiu, não só no algarismo do orçamento que, em vez de 221:809$900, como por erro de copia sahira no primeiro dos ditos decretos, é de 521:809$900, segundo consta do original, organisado pela  companhia acceito pelo Governo, como definitivamente estabelecida, como base para a convensão em ouro das despezas feitas em moeda nacional, a taxa cambial do ultimo dia de cada mez.
Os trabalhos da linha tiveram começo a 6 de julho de 1900, sendo empregados nos mesmos trabalhos operarios sertanejos, em numero de 400 homens.
Innegavelmente a autorisação para a conclusão das obras e trafego do trecho de Mulungú a Alagôa Grande, dada no art. 25, lettra E da lei n. 560, de 31 de dezembro de 1898, consultou verdadeiras conveniencias publicas, pois que aquelle trecho, além de destinar-se, ao desenvolvimento da fertil zona que atravessa, facilitando assim a exportação dos productos que não são alli consumidos, trouxe ainda como resultado aproveitar-se os materiaes da extencta estrada Timbaúba ao Pilar, que iam sendo estragados pela acção do tempo e, além disto, deu serviço e meios de subsistencia a grande numero de retirantes que, forçados pelo instincto de conservação quando a secca devastava os sertões, procuravam a zona dos brejos onde desta vez conseguiram encontrar, no serviço do trecho, o pão de que careciam para si e sua familias.
O traçado observado no trecho é o que foi approvado pelo decreto . 69 de 21 de março de 1891, e o orçamento respectivo é o que foi também approvado pelos indicados decretos ns. 3856 e 3984, de 16 de dezembro de 1900 e 2 de abril d'este anno.
A companhia atacou os trabalhos em toda a extensão da linha. As obras de arte projectadas constam de 4 pontes, 11 pontilhões, 17 boeiros capeados, e 34 boeiros abertos. Além de 1 ponte de 6 metros de vão, 2 pontilhões, 3 boeiros capeados e 17 boeiros abertos, que já estavam construidos, a Companhia já terminou 2 pontes, 1 pontilhão, 9 boeiros capeados, 8 boeiros abertos, 2 boeiros de bocca de córte, 1 mata-burro além de um pontilhão de 4 metros de vão, cujas fundações a mesma Companhia achou preparadas. A obra de arte mais importante do trecho é a ponte de 18m,70 sobre o rio Zumby locada á estaca 718X10, cujos alicerces foram construidos pela antiga Central da Parahyba. A alvenaria dos encontros desta ponte foi iniciada em janeiro findo.
Em 31 de dezembro as obras da Via-permanente estavam no kilometro 9.
Começou em janeiro passado o esticamento do fio telegraphico. Os postes tinham sido fincados durante as obras da antiga Estrada de Ferro Central da Parahyba.
Nos mezes de junho a outubro de 1900 a Companhia havia despendido 121:940$930 com obras, constantes do seguinte quadro:

                         SERVIÇO GERAL

1. Ao Engenheiro-fiscal  .  .  .  .  .  .  .  .  . 6:000$000
2. Honorarios do engenheiro-chefe e 
do pessoal do escriptorio central de construção  .  .  . 11:003$960
3. Despeza diversas  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 4:943$568
4.     >     de escriptorio  .  .  .  .  .  .  .  .  348$754
5. Impressos  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 600$567
6. Mobilia instrumentos e utensilios  .  .  .  . 1:437$664
     Pessoal e despezas diversas  .  .  .  .  .  .  .  . 24:334$513
7. Honorario do pessoal de campo  .  .  .  .  .  . 8:350$824
8. Gratificações, e ajudas de custo, diversos  .  . 2:237$614
9. Despezas de escriptorios  .  .  .  .  .  .  .  .  .   .  62$246
10. Mobilia, instrumentos e outros objectos .  .  .  . 725$101    11:375$793

...Entre os principaes serviços, durante o anno, figura a montagem do metarial rodante adquirido pela companhia para trafegar o ramal de Mulungu a Alagôa Grande, a saber:

 Locomotiva denominada "Alagôa Grande", de n. 15, com quatro
     rodas motrizes de 1 m, 06 de diametro e dois limpa-trilhos  .   .   .  1
Carro de 1° classe com accommodações para 35 pessoas e assentos 
     de palhinha, dotado de W.C., lavatorios e accessorios  .  .  .  1
Ditos de 2° classe para accommodar 42 pessoas em bancos 
      longitudenaes, com W.C. e lavatorios  .   .   .   .  .  .  .  .  .   2
Wagons cobertos  .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   10
Ditos, abertos, para transporte de cargas e lastro  .   .   .   .   5

Todo este progresso chegando a cidade se deve fundamentalmente a um homem, tratava-se do Deputado Federal patoense radicado em Alagoa Grande, Apolônio Zenaide Peregrino de Albuquerque Montenegro, que na época era chefe político local. o referido Deputado Federal tinha uma grande reivindicação junto ao governo federal: trazer em sua terra a estrada de ferro. Através de muita luta, enfim o referido deputado junto ao Governo Federal conseguiu enfim trazer a ferrovia a Alagoa Grande
O dia tão esperado chegou, 1 de julho de 1901, uma locomotiva inglesa denominada “Alagoa Grande”, de número 15, chegava “bufando” e com seu tradicional e estridente apito, pela primeira vez a Alagoa Grande. Com absoluta certeza, todo aquele acontecimento glorioso deve ter agitado a população da urbe na época, já que pela primeira vez recebia o "bicho de ferro soltando fumaça pelas ventas".
Foram realmente tempos gloriosos. A partir de então um verdadeiro surto de crescimento nos âmbitos social, cultural e econômico “apitava” na terra da “Lagoa do Paó”. Na primeira metade do século XX muitos serviços nas mais variados tipos chegou à Alagoa Grande nunca antes experimentado. Sendo este um dos municípios mais prósperos de toda a Paraíba durante décadas.
A prédio da estação, concluída apenas no ano seguinte, ou seja, em 1902, construída com um andar superior afim de abrigar o Chefe da Estação, seguia as linhas simples de volumetria com ampla cobertura de sua plataforma, a fim de atender melhor os transeuntes. Esta construção já se deu quando a Conde D'Eu foi encampada pela Great Western of Brazil Railway (GWBR), entre 1901 e 1902.
Anos mais tarde foi construída a parada de Bastiões e Capim, afim de transportar passageiros das áreas rurais do município.
Na década de 1920, o então Governo Federal tinha o objetivo de estender o ramal em direção até o Sertão do estado partindo de Alagoa Grande, algumas obras foram realizadas entre Alagoa Grande e Alagoa Nova, como pontes, aterros, bueiros, e até o início da escavação do grande Túnel da Serra da Beatriz. Porém o laudo do General Rondon inviabilizando a obra, já que excluía a importante cidade de Campina Grande da trajetória e a paralisação de todas as obras da Inspectoria Federal de Obras Contra as Seccas (IFOCS) entre 1922/23, o ramal não seguiu em frente.
Porém, para a tristeza de todos em fins de 1966 o tráfego ferroviário entre Mulungu e Alagoa Grande foi interrompido por ordem do Governo Federal, do Ministro de Viação Juarez Távora. Esta decisão equivocada deixou em segundo plano as ferrovias deste país, o qual proporcionava meios de transportes mais baratos do que as rodovias que estava sendo priorizadas.
Esta trágica decisão tirou este benefício para o povo alagoa-grandense definitivamente, não voltando mais. Todo o material de trilhos, dormentes entre outros foram retirados. A estação foi totalmente esquecida e abandonada. 
Encontra-se atualmente em estado deplorável e em total abandono, não remetendo as época douradas da ferrovia na cidade. Aguarda na esperança de algum dia seja totalmente restaurada, servindo, quem sabe, de algum museu contando um pouco da riquíssima história de Alagoa Grande.    

Fontes: Relatórios do Governo Federal de Viação e Obras Públicas – 1901 e 1902.
Alagoa Grande, Sua História, José Avelar Freire, 2° Edição, 1998.
O Malho, setembro de 1922.

Registro de uma das últimas viagens do trem a vapor em Alagoa Grande no ano de 1966. Fonte: Alagoa Grande, Sua História, José Avelar Freire, 2° Edição, 1998

Ramal Mulungu a Alagoa Grande, trecho de 24 quilômetros por via férrea. Montagem feita a partir da junção de dois mapas dos municípios de alagoa Grande e Guarabira. Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiro, Vol. IV, IBGE, 1959.

Estação e armazém de Alagoa Grande em 1922, nas obras do prolongamento do "Ramal de Penetração". Fonte: O Malho, setembro de 1922.

Aspecto da construção de um pontilhão (Ponte T) nas proximidades da estação de Alagoa Grande em 1922. Fonte: O Malho, setembro de 1922.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Obras D'Artes - Ponte Rio Bodocongó - Puxinanã

Olá amigos do HFPB. Seguindo com postagens em comemoração aos 70 anos de abertura do prolongamento entre Campina Grande e Patos, mais especificamente no município de Puxinanã, no dia 4 de abril de 1951, trago hoje alguns dados e imagens de uma ponte localizada a 3,12 km das ruínas da antiga estação local sobre o Rio Bodocongó, ou Riacho Bodocongó, como encontrado em algumas fontes. 
Em postagens anteriores, publicamos sobre um pontilhão e bueiros sobre o mesmo Rio Bodocongó, que nasce no município de Puxinanã, adentra o município de Campina Grande, atravessa os municípios de Queimadas e Caturité, até desembocar no Rio Paraíba, em Barra de Santana, em um percurso de 50 quilômetros. Este segue margeando o percurso da linha férrea entre Puxinanã e Campina Grande. Fica nas proximidades do Sítio Lagoa do Tetéu.
A ponte tem 10 metros de comprimento (o que caracteriza como ponte e não pontilhão) e altura de 3,20 metros, construída em blocos de pedra e concreto armado. Considerada uma ponte relativamente baixa entre o leito ferroviário e o leito do rio.
Foi construída, assim como praticamente todas as obras d'artes do referido prolongamento pela Empreza Construtora Camillo Collier, apresenta algumas pequenas avarias em sua estrutura, o que não é nada de anormal, já que o ramal do interior paraibano está completamente abandono desde o início da década de 2010, mas no contexto geral o estado de conservação pode ser considerado satisfatório, comprovando o tão solido trabalho empregado nesta e nas demais construções do ramal. 
Abaixo um pouco das imagens da visita realizada na localidade no dia 03 de março do corrente ano:

Estrutura de pedra e concreto armado da ponte do Rio Bodocongó

Estrutura de pedra e concreto armado da ponte do Rio Bodocongó

Aspecto da ponte do Rio Bodocongó

Parte desgastada da estrutura

Estrutura inferior da ponte

Aspecto da ponte do Rio Bodocongó

Aspecto da ponte do Rio Bodocongó