Olá amigos do HFPB. Hoje é uma data muito especial, há exatos 110 anos era realizado o ato que entraria para a história das ferrovias em nosso estado como da segunda cidade mais importante da Paraíba.
Era o ato de inauguração oficial da ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE CAMPINA GRANDE, ou seja, em 2 de outubro de 1907.
Enfim, depois de longas batalhas para trazer este benefício à "Rainha da Borborema", na noite de uma quarta-feira chegava na gare da estação a locomotiva de número 3 da GWBR (Great Western of Brazil Railway).
Era um sonho que se concretizava do então Prefeito Municipal o Sr. Christiano Lauritzen, homem de grandes visões para a terra que o acolheu com carinho. A tarefa de trazer a ferrovia para terras campinenses não foi fácil.
A ideia de implantar uma ferrovia na Paraíba vem desde meados do século XIX, quando o ilustre historiador Irineu Jóffily defendia que a ferrovia na Paraíba deveria seguir o traçado de Cabedelo a Campina Grande, margeando o Rio Paraíba, isso em 1870. Na mesma década, o estado recebeu a visita do engenheiro Rafael Galvão, que chegou a vir a Campina Grande.
No entanto, a ideia de Irineu Jóffily de sua ferrovia ficou apenas no sonho. Já que o capital inglês de então não se interessava pelo produto comum no interior paraibano, o algodão. Isto dificultava a vinda da estrada de ferro em terras campinenses.
O sonho se retomaria com a introdução das ferrovias em nosso estado no início da década de 1880, quando a The Conde D'Eu Railway Company, companhia férrea inglesa sediada em Londres que faria a exploração ferroviária em território paraibano.
A Conde D'Eu foi, portanto, a primeira ferrovia a percorrer os canaviais paraibanos, da capital para o interior em forma de Y, com um ramal para Guarabira e outro para Pilar, na várzea do Rio Paraíba. Ficando assim até sua caducidade, quando foi adquirida de volta, pelo Governo Republicano, nos primeiros anos do século XX e, posteriormente arrendada a GWBR esta, sim, obtendo lucros, até então.
Com o fim do Império, o país tentou mudar sua política ferroviária, dentro de um clima tão instável que as ferrovias, mesmo as inglesas instaladas em nosso país, começaram a dar baixos rendimentos, devido à política cambial. Na década de 1890, quando fica claro que a Conde D'Eu não tinha menor interesse em prolongar seus trilhos em direção ao Agreste e, que pelo contrário, era a GWBR que estaria com plenos interesses em explorar o algodão paraibano, que o capitalista Christiano Lauritzen vindo da Dinamarca, tenta atrair a ferrovia para a terra onde resolveu se instalar, tornado chefe político local.
Com idas e vindas ao Rio de Janeiro afim de "convencer" os políticos de que o trajeto até Campina Grande seria bastante viável, porém recebendo negativas. Ficaria adiada mais uma vez a extensão ferroviária.
Mas o ávido Lauritzen não desistiria de seu sonho de ver os "gigantes de ferro" percorrerem sua terra adotiva.
Foi então que em 1903, em nova visita ao Rio de Janeiro, Capital Federal, falar com o Presidente da República Rodrigues Alves, através do amigo Senador paraibano do município de Sousa, General Almeida Barreto. O Presidente Rodrigues Alves apoio a ideia e incluiu no plano de arrendamento, a GWBR, de todas as ferrovias entre Alagoas e o Rio Grande do Norte, o prolongamento Itabaiana-Campina Grande.
Pelo decreto federal n° 5.237 de 26 de julho de 1904, foi ratificado o contrato do Governo com a GWBR para a construção do tão sonhado prolongamento férreo.
Os trabalhos de prolongamento do "Ramal de Campina Grande", como ficou conhecido iniciaram-se imediatamente naquele 1904 e terminariam em 1907.
O trajeto sairia de Itabaiana, percorreria até as imediações do Distrito de Guarita, onde seria construída a estação Lauro Müller, daí seguiria até a estação de Mogeiro, passaria por Ingá, e entraria no município de Campina Grande através da estação de Galante, que na época era apenas um lugarejo com duas casas seculares quase em frente a mesma. Daí, seguiria pouco mais de 12 km até chegar a Campina Grande.
Detalhe: estas estações também foram inauguradas no mesmo dia da estação de Campina Grande.
Desde julho de 1907, Campina Grande já recebia tráfegos de trens, porém, a data escolhida para sua inauguração oficial seria em 2 DE OUTUBRO.
A viagem inaugural que saiu da estação de Itabaiana as 15:10 h, depois de um atraso de 40 minutos, só chegaria depois de uma enfadonha viagem que duraria 5 longas horas na estação de Campina Grande as 20:30 h. A locomotiva de número 3, levando dois vagões de passageiros sem iluminação interna cheios de convidados espaciais, em sua epopeica viagem inaugural se vestira com bandeirolas, folhas de palmeiras e duas bandeiras da Nação na sua frente. Tudo para que chegasse pomposa na gare da estação campinense.
A festa da chegada do trem logo tomou conta de todos os presentes. Os populares viram uma das maiores festas já realizadas nessa terra. A Banda Filarmônica Municipal Epitácio Pessoa tocava charangas e mais dobrados. Autoridades se revezavam em discursos daquele dia festivo. Rojões eram atirados aos céus iluminando aquela noite festiva. Enfim, a população toda comemorava este grandioso feito.
Campina Grande finalmente se inseria nos "mapas" brasileiros, as carroças e tropeiros montados em muares percorrendo nossos sertões a passos lentos seriam a partir de então "coisas do passado".
A partir de então, a cidade destinava-se ao crescimento e ao progresso. Chegando este a "apitos estridentes" e "fumaceira por toda a parte", naqueles, segundo os mais humildes, "bichos medonhos soltando fumaça pelas ventas"!. Eram verdadeiramente tempos gloriosos na "Rainha da Borborema". Campina Grande nunca mais seria a mesma.
Parabéns pelos 110 anos de existência querida Estação "velha" de Campina Grande.
Muitas histórias. Muitas emoções...
Muitas histórias. Muitas emoções...
Logomarca festiva do 110 anos de inauguração da estação de Campina Grande.
A estação de Campina Grande apinhada de populares no dia de sua inauguração em 2 de outubro de 1907.
Mapa extraído do jornal The Brazilian Review de maio de 1906 mostrando a malha ferroviária paraibana e o prolongamento Itabaiana - Campina Grande.
A "Estação Velha", atual Museu do Algodão, em junho de 2017.
A "Estação Velha", atual Museu do Algodão, em junho de 2017.