quarta-feira, 11 de março de 2020

11 de Março de 2020 - 100 Anos do Grandioso Incêndio do Armazém de Campina Grande

Olá amigos do HFPB. Hoje, 11 de março de 2020 completa-se exatos 100 Anos de um dos maiores, se não o maior, incêndio ferroviário da Paraíba. Trata-se do incêndio do armazém da estação de Campina Grande, que na ocasião as fortes labaredas consumiram 3.380 sacas de algodão.
Na ocasião, o armazém estava abarrotado de sacas repletas de plumas de algodão descaroçadas, prontas para serem embarcadas em trens para exportação em usinas de beneficiamento do produto na Capital, Parahyba. 
Estas sacas que reuniam um total de 4.000 presentes o referido armazém da GWBR, eram provenientes de comerciantes da região, principalmente do município, quando faziam este processo  de exportação utilizando o armazém da estação constantemente. Estes estavam depositados ali há alguns dias.
Pois bem, na noite do dia 11 de março de 1920, um incêndio se irrompeu  a partir das 23:55 h, quebrando o silêncio da madrugada campinense. Um clarão enorme pode ser vista há quilômetros de distância, o pânico tomou conta de todos presentes. 
Segundo a matéria do jornal Diário de Pernambuco de 13 de março de 1920, podemos descrever o desastre dessa forma: 
"Nenhum esforço no sentido de extinguir-se o fogo foi possível tentar-se porque no breve espaço de uma hora e meia as chammas devoraram o armazem, bem assim 3380 sacas de algodão que no mesmo estavam depositadas.
Os empregados da estação e populares conseguiram ainda assim, com muito esforço, salvar do fogo 950 sacas.
A partida de algodão sinistrada destinava-se em quasi totalidade à Parahyba. Estava coberta por um seguro em várias companhias.
Está proseguindo o inquérito aberto sobre o facto pela policia parahybana.
A opinião corrente em Campina é que o incendio teria sido casual."
O prejuízo com o incêndio foi de 600 contos de réis e a destruição completa do armazém. Para se ter uma ideia da violência das chamas, por pouco, as labaredas também não se alastraram para a estação, que fica a 75 metros do sinistrado. 
Lógico, que a companhia GWBR algum tempo depois do sinistro mandou reconstruir o armazém de acordo com a arquitetura original. Porém, de acordo com o jornal recifense A Província de 09 de outubro de 1920, faz pesadas críticas a companhia em relação a reconstrução do armazém, com a seguinte matéria: 
"Havia em Campina Grande, na estação, um deposito para algodão.
Nada mais natural e util.
Um dia, ha quasi um anno, esse deposito pegou fogo.
Era um desastre para todos, principalmente para os que precisavam do deposito para os seus algodões.
Em vista d'isso, a "Great Western" mandou reconstruir o deposito. Levantou as paredes e ficou ahi. Até hoje esse deposito está com as paredes, mas sem o tecto, sem telhado, o que é a mesma coisa que não existir. 
Quem é que vae depositar alli os seus algodões, sujeitos ao sol e á chuva, até que haja um carro para transporta-los ?
E eis que está seriamente incommodando os productores d'aquella zona algodoeira."     
Algum tempo se passa e nada com conclusão do armazém, o que incomodava e muito a exportação via ferroviária dos produtores da região. Novamente o referido jornal volta a tocar no indigesto assunto. A matéria de 20 de novembro de 1920, traz da seguinte forma:
"A nova queixa, aliás a queixa dos plantadores e commerciantes de algodão d'aquella zona, não mereceu a menor importancia da grande empreza ingleza.
A esse descaso ella acaba de juntar mais um contrapeso das suas exigencias, como si nada lhe parecesse acontecer na sua arrogância.
E aos embarcadores de algodão em plena safra, quando a perda de um dia pode occasionar os mais incaluculáveis prejuizos, ella acaba de declarar que não carrega mais o algodão, senão quando os lavradores, ou os embarcadores se responsabilisarem pelo transportes de setecentas saccas, ou pela lotação completa dos trens de carga.
Perguntariamos á "Great Western" onde, em que artigo de seu contracto se basêa essa exigencia. O seu dever é fazer o transporte do que existir e estiver despachado, sejam duzentos, sejam quinhentos fardos, sejam quantos forem.
Seria muito curioso que a empreza declarasse, que seus trens de passsgeiros só circulariam quando tivessem um certo número de passageiros, ou se estes se responsabilisassem pelo preço de toda a lotação.
Onde já se viu isso ?
Pois é o que a Great Western está fazendo com os lavradores de algodão, de Campina Grande, na hora actual.
Não atinamos com os resultados que visa a empreza obter com essas exigencias; o que podemos garantir é que estes factos lhe estão creando uma atmosphera antipathica e ameaçadora naquella zona."       
Realmente, de acordo com a matéria, os ânimos estavam acirrados, o que não ajudava nenhum dos lados envolvidos. Era preciso haver consenso de ambas as partes para que o comercio campinense pudesse fluir naturalmente. 
Na matéria de 19 de dezembro de 1920 do jornal A Província volta a explanar o assunto indigesto. Desta vez a redação recebendo um telegrama dos comerciantes locais:
"CAMPINA GRANDE, 18. - Commercio grandemente prejudicado descaso Companhia G.W. transporte mercadorias. Registrados estação 13300 saccos algodão entregar Parahyba, prazos fataes; faltas occasionaram cancellamento avultados negocios. Companhia tem transportado somente cerca 2.100 saccas Parahyba. Rogamos clameis contra asphyxia poderosa empreza nossos desprotegidos interesses.  Saudações - Josué Ignacio, Monteiro & Cia, Virgilio Maracajá, Leitão & Cia, Severino Affonso & Cia, Salvino & Cia e Josué de Britto." 
A situação ficou dramática para os comerciantes que dependiam totalmente do transporte ferroviário para suas exportações. Lamentavelmente a GWBR ficou intransigente aos apelos dos comerciantes algodoeiros campinenses. 
Em outro telegrama recebido pelo referido jornal estampado em uma de suas páginas no dia 04 de fevereiro de 1921:
"Severino. Recife - Após botarmos 500 saccos algodão estação obedecendo registro, superintendencia ordenou: receber algodão Demothenes estando este em 3º logar sem pagar kilometragem pedimos protestar imprensa tamanho escarneo - Virgilio Affonso". 
A "chiadeira" de alguns comerciantes que se achavam prejudicados em relação a outros chegou a medidas drásticas por parte dos menos contemplados, como o demonstrado em matéria do mesmo jornal de 19 de fevereiro de 1921:
"A proposito de uma queixa contra o chefe da estação de Campina Grande, publicada no "Jornal do Recife" de hontem, dizendo-se que elle permitte o registro de quantidades phantasticas de saccas de algodão aos seus affeiçoados, em detrimento de outros, que assim não poderão embarcar o seu algodão, procurou-nos o sr. Severino Affonso de Albuquerque, estabelecido nesta praça, com escriptorio de receber algodão, e ainda em nome dos srs. José de Britto, Virgilio Ribeiro Maracajá e Severino Affonso & Cia, estabelecidos em Campina Grande, disse-nos não ser verdade o que contém na queixa referida. 
o chefe em Campina Grande tem procedido de modo a satisfazer cabalmente os negocios de algodão daquella zona."     
Sendo ou não boato, parece que a partir daí os ânimos se acalmaram, as reclamações parecem que cessaram, e tudo indica é que a Great Western parece atendido os anseios dos comerciantes locais. O telhado do armazém da estação fora enfim terminada.
Não se sabe ao certo os motivos que levaram ao grande incêndio, podemos levantar algumas hipóteses, entre as quais, provavelmente algum descuido de algum transeunte do recinto ao manusear um possível cigarro, cachimbo ou outro tipo de fumo, provocando assim um pequeno incêndio se alastrando em seguida. 
A segunda hipótese, de alguma fagulha da chaminé de uma locomotiva que hipoteticamente fazia alguma manobra ao lado do armazém e consequentemente esta fagulha ter alcançado alguma saca que estava externamente armazenada, se alastrando para as demais. Mas esta hipótese não acredito muito.
A terceira hipótese levantada, o fogo tenha surgido de alguma fonte de iluminação, como o caso de lampião a querosene ou semelhante que provavelmente foi utilizada indevidamente. 
A quarta hipótese, que não deve ser descartada, porém a mais improvável, é de sabotagem, algum comerciante insatisfeito ou inimigo, tenha propositalmente ateado fogo as sacas ali armazenadas, quebrando o silêncio da madrugada. Mas não acredito, voltando a repetir, nesta hipótese, já que tinham vigias no local.
Fica aqui esta lembrança daquele dia trágico para o comercio campinense.

O antigo armazém da estação de Campina Grande, onde na madrugada do dia 11 de março de 1920 irrompeu em chamas. Posteriormente totalmente reconstruído. 

Panorâmica do armazém.





A estação por pouco não foi atingida pela labareda, pra se ter uma ideia da ferocidade das chamas


4 comentários:

  1. Acredito que essa data é desconhecida por grande parte dos historiadores. Muito importante a postagem e leitura recomendada para os interessados e que estudam a história da cidade. Parabéns Jônatas, seu blog contribuindo com mais uma rica postagem e oferta de registros fotográficos inéditos do local do fato.

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    1. Muito obrigado. Sim este acontecimento não é muito divulgado. Caindo no esquecimento geral. Mas aqui "ressuscitei" o ocorrido há 100 anos.

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